Alemanha precisa se manter forte para o bem da Europa

A Europa está para entrar em um novo e decisivo ciclo político. Não se trata apenas de o Reino Unido estar se preparando para se separar da União Europeia (UE). O próximo ano também trará a eleição para um novo Parlamento Europeu, a escolha de um novo presidente da Comissão Europeia e a nomeação de um novo presidente do Banco Central Europeu (BCE). Para complicar ainda mais as coisas, o país mais poderoso do continente, a Alemanha, passa também por sua própria transição, com os resultados das eleições no Estado de Hesse sinalizando o alvorecer de uma nova era em Berlim.
Na esteira disso tudo, Angela Merkel anunciou a sua decisão de renunciar ao cargo de líder da União Democrata Cristã (CDU). Ela não vai tentar a reeleição como premiê em 2021 – se é que seu governo chegará até lá. Após 13 anos no comando da Alemanha e uma queda de 11 pontos percentuais no apoio à CDU em Hesse, no domingo, Merkel está preparando a sua sucessão à medida que sua autoridade se esvai.
Como premiê, Merkel tem sido uma influência forte e estabilizadora. É vital para a Europa que a Alemanha mantenha essa função estabilizadora enquanto a premiê se prepara para sair de cena. Pouca coisa se consegue no continente sem o consentimento de Berlim ou seu envolvimento na resolução de problemas, como demonstra a década decorrida desde a crise financeira.
Mas no cenário político, o país está passando pelo mais profundo realinhamento desde a Segunda Guerra Mundial. As velhas certezas de um sistema político dominado por dois partidos estão desaparecendo, à medida que cai também o apoio público às grandes coalizões, com o bloco CDU/CSU à direita e o Partido Social Democrata à esquerda, que formaram três dos últimos quatro governos. O novo cenário é fragmentado de maneira tal que a formação de alianças será mais complicada no futuro.
Merkel vem servindo bem à Alemanha e à Europa. Ela vem fazendo isso num momento de fraqueza da França, de divergências no Reino Unido e de declínio da Itália, arcando sozinha com muitos fardos da liderança. O continente sentirá a sua falta. Mas ela é sábia para permitir a essa altura que outros líderes surjam para ocupar o seu espaço. Com as alianças políticas se fragmentando, os futuros líderes dos partidos políticos da Alemanha terão de ser mais flexíveis e abertos para desbravar novos terrenos na formação de uma coalizão, se o país quiser manter seu admirável histórico de estabilidade. Disso dependerá também a estabilidade do resto da Europa.

https://www.valor.com.br/internacional/5957963/alemanha-precisa-se-manter-forte-para-o-bem-da-europa#

Comentários estão desabilitados para essa publicação