Ah, se eu fosse…

Clarisse Setyon

Ah, se eu fosse uma marca, que marca eu seria ? Ou, que marca eu poderia usar que, ao encontrar os da minha tribo, esta marca sinalizasse coisas interessantes a meu respeito ? Uma marca que sussurrasse “ela é cool”…

Que marca poderia transmitir meus atributos pessoais através de uma camiseta, um tênis, um perfume, um carro, um computador, um celular ?

Que marca eu poderia carregar comigo, que fizesse com que o pessoal me olhasse com respeito, que tivessem vontade de me “consumir” (no bom sentido) ?

Qual marca eu escolheria para me representar ? Uma marca que falasse por mim, para que, quando eu não tivesse tempo (quem tem ?) para sentar para conversar com aqueles menos conhecidos, eles olhariam esta marca que levo comigo, e eles poderiam formar uma boa (boa ?!) opinião a meu respeito ?

E se eu invertesse a situação ?

E se eu perguntasse qual marca me escolheria para representá-la ?

Qual marca gostaria de me contratar como garota propaganda, para que seus consumidores dissessem “hummm … esta marca eu quero consumir” ?

Estas perguntas estão rolando há algumas horas na minha cabeça.

Afinal, o mundo é recheado de marcas. Marcas falam. Marcas comunicam. Marcas têm comportamentos, tem personalidade. Marcas identificam. Marcas rotulam. Marcas são simbólicas.

Quando escolho alguém para, de algum modo, ser porta-voz da minha marca, esta escolha deve ser feita com muito cuidado. Afinal, estou passando meus atributos de marca através desta pessoa. Meus valores são seus valores. Seus valores são meus valores.

Atributos. Palavra forte. Aquilo que é próprio de alguém ou de algo. Atributos de marca. Atributos de personalidade.

O dicionário traz o seguinte exemplo para a palavra: Ele tem muitos atributos, e um deles é ser uma pessoa simpática (este exemplo vem a calhar !).

Fico pensando o que passou pela cabeça dos patrocinadores da CBF após o encerramento da Copa. Talvez algo do tipo “bom, não foi tudo que esperávamos, na verdade, uma decepção anunciada, mas a visibilidade de marca foi OK (ainda que eles saibam que patrocínio está longe de ser apenas visibilidade). Nossas marcas foram representadas por pessoas bacanas, bem, talvez não todas e talvez não o tempo todo .. mas tivemos um pouco de Neymar, um pouco de Oscar, um pouco de Hulk, um pouco de Daniel Alves, um pouco de David Luiz, um pouco de Thiago Silva, tivemos até um paizão, Felipão, com seus valores familiares. Saldo razoável. Poderia ter sido melhor, mas é assim, no patrocínio, estamos jogando juntos: patrocinador e patrocinado. Mas valeu, apesar da derrota, fomos bons anfitriões. Isto beneficia nossas marcas, sem dúvida”.

O pensamento que deve ter vindo logo em seguida: “a lado bom disto é que agora, com esta derrota, os chefes da CBF não têm mais alternativa … terão que renovar … trarão um técnico europeu … modernizarão nosso futebol .. talvez demore, mas é um investimento … patrocinamos uma Seleção que ficará no centro das atenções, fazendo um trabalho de recuperação, de modernização … que bom, estou feliz por ser um patrocinador da nossa Seleção de Futebol”.

E hoje, 3ª feira, dia 22/7/2014, dia do anúncio do novo técnico da Seleção Brasileira de Futebol ? Qual teria sido o assunto na mesa do almoço, ao redor da qual poderiam estar sentados o Diretor de Marketing da Ambev, o Diretor de Marketing do Extra, o Diretor de Marketing do Itaú, da Vivo, etc., etc ?

Não sei se este almoço aconteceu. Talvez eles tenham marcado um jantar, quem sabe … mas uma coisa eu sei … eles devem estar preocupados com os atributos de suas marcas e com tudo aquilo que vem junto neste pacote.

Teria havido um apagão dentro da CBF ? Há 10 dias atrás queríamos ser como os alemães. O que houve ?

Neste almoço (ou jantar), se ele existisse, eu queria ser uma mosquinha … voar, voar, voar sobre a mesa. Gravar a conversa … pensar, pensar, pensar e, quem sabe, criar um case de marketing esportivo para discutir em sala de aula.

Ao final do case talvez eu sugerisse uma marca nova como patrocinadora da Seleção Canarinho: Fosfosol !

Boa sorte Dunga !

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