O músico Lucas Lima surpreendeu o público durante a apresentação do espetáculo Led Zeppelin In Concert, no domingo, no Allianz Parque, em São Paulo. O músico apareceu em uma holografia no palco do estádio, tocando seu violino. Na verdade, ele estava 17 quilômetros distante, nas instalações da operadora Claro, de onde conversou ao vivo com o maestro Eder Paolozzi. A sintonia foi garantida pela transmissão do sinal em tecnologia de quinta geração de serviços móveis (5G), fornecida pela Ericsson.
Ao som da música “Black Dog”, de Led Zeppelin, no violino de Lucas Lima, os cerca de 5 mil espectadores que foram comemorar os 50 anos da banda britânica tiveram uma mostra do que podem esperar de 5G. Baixas latências, já que a tecnologia elimina o atraso da transmissão do sinal, e alta velocidade. Em 4G, a rede atual em operação no país, a latência é de até 40 milissegundos; em 5G, até 2 milissegundos, explicou André Sarcinelli, diretor de engenharia da Claro. Foi a primeira transmissão de imagem por holograma em tempo real, por 5G, para um grande público no país, disse a companhia.
A experiência deu certo. Lucas disse ao Valor que após essa performance seguiu para o estádio, postando fotos em sua rede social durante o trajeto para comprovar que estava mesmo fora do Allianz. Contou que tocou seu violino em uma sala cercado por câmeras para ser filmado em 360 graus e, assim, viabilizar o efeito do holograma. Por uma tela, interagia com o maestro.
Depois do concerto e ainda no prédio da Claro, Lucas agradeceu os aplausos, mesmo sem ouvir nem ver o público. “Foi estranho”, disse. Mas a tecnologia o conquistou e ele já imagina a realização de shows com artistas dos cinco continentes atuando em conjunto e remotamente com ajuda de 5G.
“O 5G é muito mais que internet rapidinha, vai mudar como a gente lida com a informação, com os serviços e a internet. Estou bem curioso e ansioso”, disse o músico. Sua percepção ilustra como a tecnologia vai impactar a vida das pessoas. “Uma porta está sendo aberta e é difícil prever o que tem do outro lado, as possíveis aplicações – que são muitas para a arte -, os tipos de colaboração que se poderá fazer. Tenho milhões de ideias para o meu trabalho. Holograma é um negócio muito louco, e filmar nunca é como ao vivo.”
Para fazer a demonstração, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) liberou uma licença provisória da frequência de 3,5 gigahertz (GHz), reservada para 5G, com largura de banda de 100 megahertz. A Ericsson instalou os equipamentos de rede no Allianz. Outra licença permitiu implantar a rede no prédio da operadora. As câmeras captavam a imagem do músico em três dimensões (3D) e se conectavam com a estação radiobase 5G do prédio, explicou Márcio Carvalho, diretor de marketing da Claro. O sinal era transmitido por fibra óptica ao estádio, onde era recebido por um equipamento CPE que o enviava aos projetores.
A transmissão alcançou velocidade acima de 1 gigabit por segundo (Gbps), disse o diretor de marketing: “Essas taxas foram alcançadas graças à combinação das faixas de frequência de LTE – a tecnologia de 4G usada atualmente no país – com a de 5G, mostrando a compatibilidade e convivência entre as duas tecnologias.”
Para completar a experiência, a Claro distribuiu meia dúzia de óculos de realidade virtual com streaming e conectados a 5G para convidados. As câmeras estavam conectadas a roteadores de Wi-Fi também com 5G. Os óculos, que têm smartphones integrados, geravam imagem virtual. Os usuários se viam no meio da orquestra, no palco. “É o futuro dos Jetsons [desenho animado dos anos 80] chegando pela holografia”, brincou Carvalho. O recurso pode ser aplicado em funções especializadas da indústria, como a manutenção em turbina de avião com suporte virtual orientado por um técnico, exemplificou.
A tecnologia 5G também foi a base para a comunicação na Cidade do Rock, durante o Rock in Rio, realizado em setembro no Rio de Janeiro. A agência Artplan, que organiza o festival, fez uma parceria com a operadora Oi, responsável pela infraestrutura tecnológica. André dos Santos, gerente de conteúdo da Artplan, disse que foram entregues 50 smartphones Huawei à equipe da agência que trabalhava em diversas áreas do festival. A fabricante chinesa também forneceu os demais equipamentos de rede 5G.
A Artplan fazia a geração de conteúdo para as redes do Rock in Rio e também para empresas parceiras. Em festivais anteriores, a filmagem era com câmeras e depois era preciso ir até uma base para descarregar o cartão de memória. Com celular 5G, dotado de câmera Leica, fotos e vídeos foram captados e transmitidos de qualquer lugar em segundos. “Não vejo a hora de o jogo [rede 5G] começar a valer. Imagino o festival daqui a dois anos”, disse Santos. “Voltei para a tristeza do Wi-Fi da minha casa.”
A velocidade de transmissão alcançada durante o evento foi em torno de 700 megabits por segundo com picos de 1,3 Gbps em alguns pontos, informou a Oi.
A TIM Brasil também abraçou a música para testar aplicações da tecnologia 5G. Em setembro, em Santa Rita do Sapucaí (MG), fez a apresentação de uma banda de rock conectada, embora seus músicos estivessem divididos em dois locais diferentes da cidade. O vocalista e o baterista ficaram no ambiente montado para demonstração da tecnologia na Casa TIM 5G. A outra parte da banda – vocalista, baixista e guitarrista – ficou nas instalações do parceiro Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), que estava entre 1 km e 1,5 km distante. “Tocavam de forma harmoniosa, não se percebia que estavam em casas distintas”, disse Janilson Bezerra, diretor de inovação e desenvolvimento de negócios da TIM. “Eles escutavam o som e davam cadência ao ritmo musical, sem ‘delay’” [atraso na transmissão].
A subsidiária da Telecom Italia tem avançado nos testes e envolvido várias empresas com o objetivo de criar uma cadeia produtiva. “Tentamos fazer uma aproximação da consciência de 5G com especialistas, formadores de opinião, pesquisadores. É possível criar um ecossistema de negócios, envolvendo desde players menores, transformando em soluções viáveis”, disse Bezerra.
Na Paraíba, a TIM aliou-se à Universidade Federal de Campina Grande e ao Instituto Virtus para ativar um laboratório de soluções para a indústria. No campus da
universidade fizeram a primeira transmissão em 5G para drones da América Latina, com imagens em 4K, segundo Bezerra. Isso vai permitir acompanhar remotamente execução de obras, transmissão de energia, sem precisar de helicóptero. Os drones foram operados pela startup Neo Vision, especializada em inspeções industriais e geoambientais, com tecnologia 5G da Nokia.
Nesse pool de empresas estão a Logicalis, de tecnologia; a CNH Industrial, que atua na fabricação de equipamentos de construção, agrícolas e veículos; a Microsoft e o Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia. Já foram testados produtos e serviços de telemedicina, com orientação remota de fisioterapeuta para pacientes ou cuidadores; e educação, com o uso de óculos virtuais para estudar órgãos humanos em sala de aula, por exemplo, o que Bezerra chama de educação ampliada, que pode ajudar a reter alunos, tudo em tempo real por 5G. Inatel, Ericsson e Qualcomm também testaram sistemas robóticos com a ABB. Testes foram conduzidos ainda com a Universidade de Santa Catarina.
Na área de games, uma experiência da TIM em Santa Rita do Sapucaí permitiu que equipes jogando em locais diferentes competissem entre si. Mas a tecnologia ainda está amadurecendo e o leilão para vender as licenças para as teles só está previsto para o fim de 2020, segundo informou uma fonte ligada à Anatel. A TIM já demonstra a tecnologia no shopping Ibirapuera, em São Paulo, e planeja levar a mostra para mais dez lojas da marca em vários Estados.
A Vivo, marca da Telefônica, informou por nota que vem fazendo testes desde 2018 e planeja continuar. O primeiro deles foi no Rio de Janeiro, em parceria com a Huawei, com aplicações de realidade virtual em um jogo de vôlei na frequência de 3,5 GHz. O outro foi em São Paulo, com a Ericsson, na faixa de 28 GHz, para simulação de cirurgia remota. Segundo a nota, o potencial de 5G foi confirmado, mas há desafios a serem superados, como ter mais sites, virtualização de funções de rede, computação local, antenas ativas e expansão de fibras, “que trarão maior complexidade à rede, com uma forte pressão nos investimentos”.