Não faz muito tempo, muitos pais se perguntavam com que idade seus filhos deveriam ter acesso à chave do carro. Hoje, a questão é mais complicada: com que idade eles podem ter um smartphone? O celular inteligente, afinal, é a chave para o acesso irrestrito à internet e aos muitos benefícios e perigos que isso envolve. Mas, ao contrário de dirigir um carro, que é legal em alguns Estados a partir dos 16 anos, não existe nenhuma diretriz legal para um pai determinar quando a criança está pronta para manusear um smartphone, como mostrou matéria do The New York Times, assinada por Brian X. Chen, publicada no Estadão de 23 de julho.
O assunto vem sendo cada vez mais debatido, à medida que as crianças começam a ter em mãos um celular cada vez com menos idade. Em média, elas recebem seu smartphone com 10 anos, segundo a empresa de pesquisa Influence Central – em 2012, a idade média era de 12 anos. Em alguns casos, o celular chega ainda mais cedo, aos 7 anos, por exemplo. “Acho que a idade vai diminuir mais porque os pais estão ficando cansados de dar o seu celular para os filhos usarem”, disse Stacy DeBroff, diretor executivo da Influence Central.
Essa redução de idade tem enfrentado resistência, disse James P. Steyer, executivo da organização sem fins lucrativos Common Sense Media, que analisa conteúdo e produtos para famílias. Ele tem uma regra estrita em sua casa: seus filhos só terão um smartphone quando começarem o ensino médio, depois de ter aprendido o valor da comunicação cara a cara. Outros pais podem achar que os filhos estão prontos mais cedo. “Nenhum filho é igual ao outro, não existe um número mágico. A idade de uma criança não é tão importante quanto a responsabilidade ou nível de maturidade”, diz o executivo.
Então, como determinar a idade correta? Quanto mais tempo você esperar para dar um smartphone a seu filho, melhor. Segundo alguns especialistas, 12 anos é a idade ideal, ao passo que outros falam em 14. Todos concordam que, quanto mais tarde, mais seguro, pois os smartphones se tornam uma distração que vicia e distrai a criança do trabalho da escola ao mesmo tempo que a expõe ao bullying na internet, pedófilos e mensagens de caráter sexual. “Quando mais tempo mantiver a caixa de Pandora fechada, melhor”, disse Jesse Weinberger, um analista de segurança na internet que dá palestras para pais, escolas e autoridades policiais no estado norte-americano de Ohio. “Sem o aparelho, não há nenhuma conexão com esse lado sombrio da comunicação.”
Num estudo publicado este ano, a Common Sense Media entrevistou 1.240 pais e crianças e concluiu que 50% das crianças admitiram estar viciadas nos smartphones. E, para 66% dos pais, seus filhos usavam muito os aparelhos móveis, com o que 52% das crianças concordaram. Cerca de 36% dos pais disseram que discutem diariamente com os filhos sobre o aparelho.
Há um aspecto biológico a considerar também. O córtex pré-frontal, parte do cérebro de controla o impulso, só está totalmente desenvolvido em torno dos 20 anos. Em outras palavras, os pais não devem ficar surpresos com o fato de as crianças mais novas com smartphones não conseguirem se controlar.
Sem dúvida, os smartphones trazem benefícios. As crianças têm acesso a aplicativos, incluindo ferramentas educacionais para estudo e conexão com amigos. Mas também são um passo para jogos que desviam a atenção do estudo, aplicativos de redes sociais, nos quais aproveitadores estão à espreita. No fim, os contras podem superar os prós. Ao negar um smartphone para os filhos, eles ainda assim terão acesso a ferramentas por meio de aparelhos como PCs e tablets.
Uma opção é começar com aparelhos móveis simples, em que se possa apenas enviar mensagens ou telefonar. Cabe aos pais determinar quando seu filho realmente está pronto para um smartphone.
Matéria Original:
http://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,uso-de-smartphone-por-criancas-gera-polemica-nos-eua,10000064537