Unilever vai investir € 1 bi em fontes sustentáveis

A Unilever, dona das marcas Omo, Brilhante e Sétima Geração, vai investir € 1 bilhão para substituir globalmente 100% do carbono derivado de combustíveis fósseis das fórmulas de seus produtos de limpeza e lavanderia por carbono de fontes sustentáveis até 2030. A empresa já soma, em três meses, € 2 bilhões prometidos para ações de sustentabilidade. Em junho, ela já tinha anunciado € 1 bilhão para combater mudanças climáticas e zerar a emissão líquida de carbono até 2039. 

Os dois anúncios correspondem a quase toda a receita global da divisão de cuidados com a casa da Unilever no segundo trimestre deste ano, quando faturou € 2,6 bilhões. Em todas as divisões de negócios, a receita da empresa foi de 13 bilhões no período. 

 “Queremos deixar de ser parte do problema, para ser parte da solução”, diz Eduardo Campanella, vice-presidente de marketing e responsável pelo portfólio de produtos para casa no Brasil, um dos três maiores mercados da empresa no segmento. Hoje, diz ele, 12% da demanda de petróleo e derivados vem da indústria química. Na 

Unilever, a divisão de produtos de limpeza responde por 46% da emissão de carbono. O objetivo é cortar a pegada de carbono das fórmulas dos produtos em até 20%. 

O recurso anunciado agora é para pesquisar e desenvolver soluções para que as fórmulas sejam compostas por matérias-primas biodegradáveis em até dez anos, a produção reduza o consumo de água e o uso de embalagens plásticas caia pela metade. 

Mas há os desafios de o consumidor aceitar a mudança e de os preços serem mantidos acessíveis nas prateleiras dos supermercados. Uma das metas é promover a inclusão das novas fórmulas à cesta de compras, mostrando que as alterações não mudarão o dia-a-dia do consumidor e investindo em diferentes etapas da cadeia para haver produção em escala. 

“Só no Brasil, vendemos 14 milhões de produtos por dia. Então, nossa visão é de fazer em escala e não para um único produto ou nicho. O impacto de um produto de embalagem com 25% de plástico reciclado que vende 1 milhão de unidades é maior do que o de uma embalagem com 100% que não vende.” 

Assim, a possibilidade da adoção de uma agenda sustentável na reforma tributária, como sinalizado pelo presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, é “extremamente importante” para Campanella. A embalagem, por exemplo, é novamente tributada ao voltar à cadeia de produção para reúso. “O Brasil tem grande potencial para ser a matriz de sustentabilidade mundial. É importante um olhar diversificado que explore as múltiplas possibilidades existentes em uma economia sustentável.” 

Iniciativas de extração de carbono de fontes verdes poderiam ter tributação diferenciada, segundo Campanella. “Sustentabilidade é um negócio e há a chance de tributações diferentes estimularem investimentos.” 

A empresa, inclusive, criou uma nova matriz de carbono, a Carbon Rainbow [arco-íris de carbono em inglês], em que cada cor representa uma das fontes do carbono utilizado nos produtos. A ideia é deixar de usar o carbono que está embaixo da terra, como as fontes não renováveis, para capturar o que está na superfície. 

Outra meta é alcançar uma cadeia produtiva sem desmatamento até 2023. Campanella diz que há questões urgentes a serem resolvidas no Brasil e no mundo, mas a empresa tem trabalhado para que não seja preciso utilizar matérias-primas agrícolas ligadas ao desmatamento. No ano passado, 69% das matérias-primas eram sustentáveis. Esse índice era de 14% em 2010. 

Com a agenda ambiental do governo brasileiro em debate, Campanella diz acreditar que a pressão de uma indústria mais sustentável pode suprimir a opção dos fornecedores de se valerem de eventuais afrouxamentos na regulamentação ambiental. 

“Trabalhando com o rastreamento da cadeia, a gente consegue. Não é uma mudança sozinha. [Não é] só do governo, só do consumidor ou só da indústria. Se por um lado pode existir certa oportunidade, por outro existe nossa pressão: ‘Só vou comprar com origem sustentável. Se esforce para garantir um produto assim ou você vai deixar de vender para mim’”, diz Campanella. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/03/unilever-vai-investir-euro-1-bi-em-fontes-sustentaveis.ghtml

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