UE recua sobre emissão de gases na agricultura após protestos

A União Europeia decidiu abandonar uma meta recomendada para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na agricultura. A medida ocorre como uma tentativa de acalmar os protestos dos agricultores contra a agenda verde do bloco, que já dura mais de duas semanas.

Um texto sobre como reduzir as emissões em 90% até 2040, que deveria ser publicado pela Comissão Europeia nesta terça-feira (6), não inclui mais uma referência a uma meta de queda de 30% no metano, nitrogênio e outros gases relacionados à agricultura, disseram três autoridades da UE envolvidas nas discussões ao Financial Times.

A medida ocorre no momento em que ocorrem manifestações generalizadas de agricultores na França, Alemanha, Bélgica e, mais recentemente, na Itália, envolvendo bloqueios de estradas, derrubada de estátuas e uso de força policial.

A resistência às regras ambientais de Bruxelas tem sido alimentada pela suposta percepção de que os formuladores de políticas urbanas estão ignorando as áreas rurais —um sentimento que a extrema-direita tem buscado capitalizar antes das eleições para o Parlamento Europeu em junho.

Agricultores italianos marcharam até Roma na noite de segunda-feira (5) em protesto contra a importação de alimentos baratos de fora da UE e pediram a reintegração de isenções fiscais.

A ferocidade dos protestos pegou os governos de surpresa —inclusive durante uma cúpula de líderes da UE em Bruxelas na semana passada.

Na tentativa de apaziguar os agricultores, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, iniciou “diálogos estratégicos”, permitiu que terras que deveriam ser deixadas de lado para a conservação da natureza fossem cultivadas e que as capitais dos países integrantes da UE impusessem restrições a algumas importações agrícolas da Ucrânia.

Von der Leyen, assim como outros políticos que buscam reeleição, estão cada vez mais preocupados que os agricultores reajam nas urnas e votem em partidos de extrema-direita, em vez das forças de centro-direita que tradicionalmente apoiaram.

Em uma carta à Comissão na segunda-feira, os Verdes disseram que os agricultores estavam “presos em um sistema que os estava esmagando” e que Bruxelas deveria propor medidas, incluindo um imposto extraordinário sobre empresas agroalimentares para apoiá-los.

O documento da meta de 2040 tem como objetivo estabelecer quais caminhos o bloco poderia seguir para reduzir as emissões, para promover “uma nova revolução industrial” e se tornar neutro em carbono até 2050, em conformidade com os compromissos internacionais.

As atividades agrícolas, que representam 10% das emissões do bloco, foram inicialmente anunciadas como “uma das áreas principais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa da UE até 2040”, de acordo com um rascunho visto pelo FT.

As políticas devem abordar o setor alimentício como um todo, em vez de apenas a agricultura “isoladamente”, acrescentou o rascunho, observando que grandes proporções das emissões podem ser reduzidas por meio da diminuição do desperdício de alimentos, mudança na composição química dos fertilizantes e incentivo aos consumidores a consumir alimentos com menor emissão de carbono.

O comissário de clima da UE, Wopke Hoekstra, disse ao FT no mês passado que o bloco deve evitar uma “narrativa falsa” de que as indústrias terão que sofrer como resultado da política climática.

Em uma avaliação separada do documento de transição climática do bloco, a Comissão destacou que a falta de progresso na redução das emissões agrícolas é “preocupante, exigindo uma mudança de marcha”.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/02/ue-recua-sobre-emissao-de-gases-na-agricultura-apos-onda-de-protestos.shtml

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