A Ucrânia disparou uma série de mísseis Storm Shadow, produzidos pelo Reino Unido, contra a Rússia nesta quarta-feira (20), um dia depois de ter atacado o país de Vladimir Putin com mísseis americanos ATACMS. Tratam-se dos mais recentes armamentos ocidentais que o ucraniano Volodimir Zelenski tem permissão para usar no conflito.
A ofensiva arrisca uma retaliação atômica de Moscou não só contra Kiev, mas contra o próprio Reino Unido, resultado de uma alteração da doutrina nuclear russa. Divulgada na terça-feira (19) pela Rússia, a medida reserva ao país o direito de atacar com armas nucleares tanto quem atingir o território russo com armamentos convencionais quanto potências atômicas que apoiarem a ação.
A redação era um recado direto aos Estados Unidos, que no domingo (17) autorizou a Ucrânia a empregar mísseis de longa distância como o ATACMS não só em áreas próximas à fronteira com a Rússia, mas também contra o território inimigo.
A nova cartilha russa não significa que uma guerra nuclear está para ocorrer, mas coloca no papel ameaças retóricas que vêm sendo feitas há meses, visando dissuadir o apoio ocidental a esse tipo de ataque contra alvos distantes.
Nem autoridades de Londres nem de Kiev confirmaram a utilização das armas nesta terça, no entanto. Os ataques foram amplamente relatados em canais do aplicativo Telegram. Em vídeos postados por correspondentes de guerra russos na plataforma, é possível ouvir ao menos 14 grandes explosões em uma área residencial na região de Kursk, no sul da Rússia, e ver uma fumaça preta subindo ao longe.
O canal no Telegram Two Majors, pró-Rússia, publicou fotos de destroços dos mísseis em que é possível ler o nome Storm Shadow. O governo russo não informou quais áreas foram atingidas nem eventuais vítimas ou danos.
O Reino Unido permitiu durante o conflito o uso do Storm Shadow, pelas forças de Kiev, em território ucraniano. Depois que Washington autorizou ataques com armamentos americanos contra alvos na Rússia, analistas esperavam que Londres fizesse o mesmo.
Na terça, o premiê britânico, Keir Starmer, afirmou que a Ucrânia “tem de ter o que for preciso” para vencer a Rússia. Disse ainda que as ameaças de ataques nucleares feitas por Putin não vão interromper o apoio britânico a Kiev. Não está claro, porém, se Londres havia autorizado ataques contra o território russo.
Segundo o jornal britânico The Guardian, o governo teria autorizado esse tipo de ação em resposta ao envio de tropas norte-coreanas para combater no conflito. Ucrânia, Otan e Coreia do Sul dizem que cerca de 12 mil soldados da ditadura foram colocados à disposição de Putin.
Desde o início da guerra, Kiev tem pressionado seus aliados ocidentais pela autorização do uso de armas contra o território russo. O Storm Shadow tem um alcance máximo de 560 quilômetros e, se disparado da Ucrânia, pode atingir Moscou.
Diante do aumento da tensão, os EUA anunciaram na manhã desta quarta o fechamento de sua embaixada em Kiev após informações sobre um “possível ataque aéreo” na capital. “Por precaução, a embaixada será fechada, e os funcionários estão sendo instruídos a se abrigarem no local”, disse um setor do Departamento de Estado americano em um comunicado.
A embaixada ainda instou cidadãos americanos na Ucrânia a terem reservas de água, alimentos e outros itens essenciais, como medicamentos, para o caso de uma “possível perda temporária de eletricidade e água” causada por ataques russos.
As embaixadas da Itália e da Grécia disseram que também fecharam suas portas. Já a embaixada da França permaneceu aberta, mas pediu cautela a seus cidadãos.
Também nesta quarta, o Pentágono anunciou mais US$ 275 milhões (R$ 1,58 bilhão) em ajuda militar à Ucrânia. O pacote inclui munição para o sistema de foguetes Himars. O governo de Joe Biden ainda decidiu perdoar US$ 4,7 bilhões (R$ 27,1 bilhões) em empréstimos de Washington a Kiev.
O sucessor de Biden, o presidente eleito Donald Trump, prometeu acabar com a guerra “em 24 horas” —sem explicar como faria isso— e tem criticado os bilhões de dólares que Washington já enviou em ajuda à Ucrânia. Os lados beligerantes acreditam que o republicano provavelmente pressionará por acordos de paz e estão tentando acelerar os ganhos militares antes das negociações.