Pressão dos acionistas, ou reclamação dos usuários? O Twitter enfrenta problemas. “Nosso trabalho será fazer do Twitter uma plataforma mais simples para qualquer um no mundo, e dar ao serviço mais utilidade para quem ama usá-lo diariamente.” A frase de Jack Dorsey ao assumir pela segunda vez o posto de CEO do Twitter, no início deste mês, mostra a encruzilhada na qual a rede social se encontra.
Apesar de sua relevância social e cultural, o Twitter precisa encontrar um novo caminho após ter crescido menos que o esperado nos últimos anos. Fundada em março de 2006, a plataforma enfrenta dificuldades para atrair novos usuários e gerar lucro para os acionistas.
Assim que chegou, Dorsey anunciou duas mudanças significativas. Além do lançamento do novo recurso Moments, ele cortou mais de 300 funcionários do Twitter em todo o mundo, cerca de 8% do total. “Foi uma decisão difícil, mas necessária para que o Twitter possa ir em frente com foco e crescimento”, disse o novo CEO por meio do microblog, em um recado claro para Wall Street.
Conquistar a confiança dos acionistas é uma das principais preocupações de Dorsey. Quando o Twitter fez sua oferta inicial de ações (IPO), em novembro de 2013, os investidores a viam com otimismo: as ações, inicialmente negociadas a US$ 26, chegaram a ser vendidas por US$ 45 no dia de estreia na Bolsa de Valores de Nova York, como mostrou matéria do Estadão, assinada por Bruno Capelas, publicada na edição de 19/10, pg B8.
Dois anos depois, no entanto, o grupo ainda não se provou capaz de gerar lucros: nos dois primeiros trimestres de 2015, o prejuízo soma US$ 299 milhões, de acordo com informações divulgadas dos balanços da empresa.
Para analistas, por ser uma empresa baseada em audiência, o Twitter precisa se afinar com o mercado publicitário. “O Twitter demorou muito para se abrir para anúncios com a desculpa de não querer agredir a experiência do usuário”, afirma o consultor de mídias sociais Edney Souza, o ‘Interney’. Ele lembra que a empresa só abriu suas portas para anúncios personalizados no final de 2013.
De acordo com a consultoria eMarketer, Google e Facebook vão concentrar 38,2% das verbas de publicidade digital gasta nos Estados Unidos em 2015, ou cerca de US$ 10,34 bilhões; já o Twitter terá apenas 5%. “Google e Facebook têm a maior fatia do mercado porque concentram mais audiência”, explica o analista de mídias sociais Alexandre Inagaki.
A empresa tem brincado de esconde-esconde com o mercado: ao mesmo tempo em que criou o Twitter Analytics, que permite a qualquer usuário verificar as impressões e alcance de cada postagem, o Twitter parou de divulgar seus números de audiência nos balanços.
O último dado foi divulgado no quarto trimestre de 2014, quando o microblog registrou 182 bilhões de visualizações de linhas do tempo, alta de 23% em relação ao mesmo período do ano anterior. O crescimento de audiência é pequeno se comparado com o quarto trimestre de 2013, quando houve alta de 76% nas visualizações frente a igual período de 2012.
A popularidade do Twitter não esta em baixa só entre os investidores. Com exceção de quem já era fã, está mais difícil atrair novos usuários. Enquanto rivais, como Facebook e Instagram, crescem a taxas mais altas, o Twitter passou a avançar mais lentamente. No primeiro balanço após a abertura de capital, o número de usuários cresceu 30% em relação ao quarto trimestre de 2012. A taxa de crescimento caiu pela metade segundo os balanços já divulgados pela companhia em 2015, ficando em torno de 15%.
“O Vale do Silício nos ensinou que quem não cresce morre lentamente. É um sinal de que existem problemas de produto ou de visão”, afirma Pedro Waengertner, CEO da aceleradora de startups AceleraTech e professor de marketing digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
O fato de o Twitter não ser tão intuitivo para os usuários como outras redes sociais é um dos entraves. “Quem começa a usar a internet entra no Facebook porque a família e os amigos já estão lá. Quem entra no Twitter tem dificuldade de achar sentido na plataforma se não souber fazer sua própria curadoria”, diz Inagaki.
Este fator limita o uso da rede social a um nicho específico, segundo José Calazans, analista da consultoria Nielsen/Ibope. “Quem está no Twitter é mais informado, ligado às áreas de marketing, comunicação e tecnologia, jovem e urbano.”
Para atrair uma nova audiência, o desafio do Twitter é receber melhor os novatos. O primeiro passo nessa direção é o Moments, uma ferramenta que permite acompanhar os assuntos mais quentes, sem precisar seguir ninguém. Com curadoria feita por pessoas, o recurso já funciona nos EUA e deve chegar ao Brasil em breve, mas não há data de lançamento. “Ele vai encurtar o caminho do usuário que não sabe quem deve seguir. A plataforma deve ficar mais fácil de usar”, diz Interney. Para Dan Olds, consultor da Gabriel Consulting, esse pode ser o melhor caminho. “O Twitter não precisa ser como o Facebook, ele só precisa ser melhor como Twitter.”