Tecnologia vai mudar mapa global da indústria

A indústria 4.0, que prevê o uso combinado de recursos como inteligência artificial, análise complexa de dados, robótica e internet das coisas (IoT), vai acelerar os ganhos de produtividade no mundo e deve provocar um redesenho da estrutura fabril global, ainda centrada na Ásia.
“O mercado será dos inovadores, dos mais eficientes”, disse o economista Chad Syverson, professor da Escola de Negócios Booth da Universidade de Chicago, durante a FabTech, evento voltado para o segmento de fabricação de peças metal que ocorreu este mês em Chicago.
Ele lembra que as empresas migraram para as economias emergentes em busca de mão de obra barata, mas a automação intensiva e a inserção de inteligência nos processos produtivos reduzem a demanda por esse tipo de trabalhador. As novas fábricas são operadas por robôs, comandados por profissionais capacitados (recurso caro em qualquer lugar do mundo). “O custo da mão de obra deixa de ser um problema. O acesso à tecnologia se torna o principal fator de competitividade”, afirma.
Syverson diz que o ritmo de desindustrialização das economias emergentes é um indicador de que a estratégia de atrair negócios a partir da oferta de mão de obra barata não é sustentável. As companhias estão deixando países como a China porque o efeito sobre o custo se dissipou. “Na China, por exemplo, os salários aumentaram com o crescimento da economia local. Em alguns produtos, a indústria norte-americana já é mais competitiva”, disse.
Nesse cenário, a China – com sua nova classe média – deixa de ser um país exportador de bens de consumo para se tornar um novo destino para as exportações. “A tendência é que os chineses se voltem para o mercado interno”, diz Syverson. Mas o país não está parado – tem investido em inovação, porque sabe que não pode depender da antiga indústria, e quer ser líder em inteligência artificial, como mostrou matéria do Valor, assinada por Ediane Tiago, publicada em 22/12.
Em meio às transformações nas cadeias produtivas, o futuro dos empregos é uma preocupação. Dados do Fórum Econômico Mundial sinalizam a extinção de 7 milhões de vagas nas 15 maiores economias até 2020. No mesmo período, as novas indústrias criarão 2 milhões de empregos – um déficit total de 5 milhões de postos de trabalho.
Enquanto os empregos de menor qualificação profissional minguam, haverá dificuldade para preencher os novos postos, aponta pesquisa da Deloitte. A consultoria prevê que, só nos Estados Unidos, a manufatura criará quase 3 milhões de empregos na próxima década, vagas que demandarão conhecimento em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. “Não temos gente suficiente”, diz Chris Kuehl, diretor da Armada Corporate Intelligence.
De acordo com o especialista, é preciso estimular, com urgência, o treinamento da mão de obra em empresas ou instituições de ensino. “Não temos programas de formação, como os da Alemanha, por exemplo.” Essa problemática pode ampliar as tensões sociais nos Estados Unidos, onde operários esperam o retorno das fábricas para retomar seus padrões de renda. “O problema é que voltam fábricas e empregos completamente diferentes”, diz Syverson.
Karen Kerr, diretora executiva da GE Ventures, também aponta a formação de mão de obra como um dos grandes desafios da indústria 4.0. “Os profissionais terão de colaborar com robôs, trabalhar lado a lado com as máquinas. Precisam redefinir seus papéis no mercado de trabalho.” Outra questão, lembrada por ela é o avanço da internet das coisas. “A tecnologia vai transformar os modelos de negócios. Estaremos diante de um novo ambiente de operação”, completa.
Todd Grimm, presidente da Grimm & Associates, alerta para o fato de os industriais estarem sobrecarregados com tanta informação. “Ninguém sabe para onde ir.” Ele cita como exemplo o segmento de manufatura aditiva – ou impressão 3D. “Apesar do amadurecimento das impressoras e do desenvolvimento de materiais, há muitos desafios para vencer”. Para ele, é o momento de investigar técnicas, revisar o plano de negócios e entender onde aplicar cada uma delas. “É preciso perguntar: o que eu vou ganhar com isso?”
Empresários brasileiros que visitaram a FabTech dizem que há um abismo entre as soluções apresentadas no evento e as disponíveis no Brasil. “Não temos máquinas, nem softwares equivalentes fabricados no país. Ainda estamos distantes da indústria 4.0”, diz Fabio Costa, diretor da TecLaser, de Londrina (PR). Segundo ele, a aquisição de equipamentos ou softwares importados é dificultada por impostos e taxas, mesmo quando não há similar nacional.

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