Tecnologia vai facilitar novos estilos de trabalho

Um fato: possibilidades criadas pela tecnologia sustentam mudança para cidades pequenas. O custo de distância determinou, durante séculos, onde as empresas se instalariam, os empregos estariam e as famílias viveriam. Com a globalização e a ascensão de tecnologias como a internet de alta velocidade, a computação em nuvem e a mobilidade, os hábitos da população começaram a mudar gradativamente.

De uns anos para cá, um fenômeno ganhou corpo nos Estados Unidos, devendo se alastrar pelo resto do mundo nos próximos anos. Muitos americanos têm deixado suas casas nas grandes cidades como Nova York, São Francisco, Los Angeles e Chicago em busca de uma melhor qualidade de vida e preços de moradia mais convidativos, como mostrou artigo de Francoise Terzian, publicado no Valor de 29/06.

Isso não significa que as grandes metrópoles ficarão vazias. No entanto, suas taxas de crescimento cairão, conforme já vem ocorrendo. De 2000 a 2010, os Estados Unidos viram uma migração de 13 milhões de pessoas da área rural para a urbana. Desse total, seis milhões optaram por morar nos municípios menores. Na prática, isso significa que as grandes cidades vêm perdendo participação na população urbana.

Essa mudança deve atingir uma parcela importante da população mundial nas próximas duas décadas e, consequentemente, remodelar a economia global, aponta o estudo “Economia espacial: o custo em declínio da distância”, conduzido pelo grupo de tendências macroeconômicas da Bain & Company.

O catalisador para essa mudança histórica é a tecnologia que tem reduzido o custo de distância. Além da internet que trouxe novos hábitos à população mundial, há investimentos bilionários em robótica, impressão 3D, drones de entrega de mercadorias como já vem fazendo a Amazon.com nos Estados Unidos, tecnologias de logística e veículos autônomos (que andam sem motorista).

Essas mudanças darão origem a novos mercados, empresas mais inovadoras, estilos de vida mais conectados ao bem estar e diferentes oportunidades de carreira. A transformação também deverá trazer riscos, como o fim de milhões de postos de trabalho tradicionais. Dos ganhos da chamada economia pós-urbana: será cada vez menos importante viver próximo ao local de trabalho ou perto de centros que concentrem edifícios comerciais.

Ao invés dessa “obrigação” de morar perto do emprego, as pessoas irão escolher onde viver com base nas características de estilo de vida e fatores como proximidade com espaços sócio-culturais e atividades esportivas e recreativas. Os imóveis maiores também são atrativos, uma vez que custam menos que os pequenos e caros apartamentos de metrópoles e bairros que são superhabitados.

A americana Karen Harris, diretora da Bain & Company’s Macro Trends Group e responsável pelo estudo, conta que a geração millenium (ou Y, que designa aqueles nascidos entre os anos 80 e 90) busca espaços maiores para viver, o que os tem motivado a deixar as grandes e caras metrópoles. “É um fenômeno nos Estados Unidos como um todo. Muitas pessoas têm se mudado para cidades pequenas ou áreas menos populosas graças às possibilidades criadas pela tecnologia, que tende a acelerar esse processo”, conta.

Os indivíduos conseguem viver em regiões menos populosas graças aos avanços da conectividade e também dos transportes – redução no custo por milha, uso de carros sem motoristas e de drones para fazer entregas. Os municípios distantes do centro também devem ganhar mais opções de emprego ou oportunidades para empreender.

Essa migração já começou, aponta estudo da Bain. No ano 2000, metade da população dos Estados Unidos (49,7%) vivia em um raio de 10 milhas de proximidade de um centro urbano. Em 2010, esse número havia caído para 47,5%. Até 2025, a estimativa é de 10 milhões a 25 milhões de moradores a menos que em 2010.

A Bain prevê que, em 2025, os americanos irão exigir conectividade de internet a 100 Mbps para atender suas demandas digitais. A procura por alta velocidade em regiões menos populosas já está levando gigantes como Iridium, Google e SpaceX a trabalhar em versões de terceira geração e também na formação de consórcios.

Mas e o Brasil? O país deve seguir essa tendência? Karen acredita que sim, e avalia que mercados emergentes sofrem dos mesmos males que as grandes cidades americanas, como custo de vida alto, trânsito caótico e população em busca de uma melhor qualidade de vida. “Se você olhar para 30 anos atrás, perceberá que municípios próximos à capital paulista, como Cajamar e Louveira, desenvolveram-se muito, atraindo manufatura, centro de distribuição e também empresas de serviço”, observa Alfredo Pinto, diretor da Bain & Company em São Paulo.

Cidades menores no entorno de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por exemplo, ganham infraestrutura e serviços, trazendo benefícios à qualidade de vida sem cobrar os preços muitas vezes exorbitantes das capitais.

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