Subsídio chinês é principal obstáculo a acordo com EUA

Apesar de estarem muito próximos de um acordo para encerrar a guerra comercial, as negociações entre os EUA e a China sofreram uma parada súbita, em grande parte por causa dos subsídios concedidos pelo governo chinês aos seus principais setores produtivos.
“Os EUA e a China chegaram a um consenso sobre 90% do acordo comercial”, disse ontem uma autoridade de um grupo econômico americano. “Mas eles não conseguiram resolver as diferenças sobre os subsídios chineses.”
Segundo fontes, o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, demonstrou preocupação com a questão uma semana antes do tuíte de domingo do presidente Donald Trump, prometendo subir tarifas. Os EUA acharam que Pequim tinha concordado em incluir no acordo a revisão dos subsídios. Mas acredita-se que a China recusou isso, preferindo tratar da questão sem colocá-la no papel.
“Vimos uma erosão dos compromissos assumidos pela China”, disse Lighthizer na segunda-feira. Acredita-se que ele pressionou Trump a adotar uma posição mais dura com a China.
Os subsídios representam a base da versão chinesa do capitalismo, na qual províncias competem umas com as outras para atrair indústrias, aumentando assim a receita tributária e criando empregos. Os EUA consideram os empréstimos a juros baixos dos bancos estatais chineses um tipo de subsídio estatal, mas o presidente chinês, Xi Jinping, resiste em fazer mudanças que venham a afetar profundamente as instituições financeiras e os negócios regionais.
Especula-se ainda que o vice-premiê Liu He, principal negociador chinês, sofreu um revés quando apresentou o esboço final do acordo comercial aos 25 membros do Politburo, órgão máximo do Partido Comunista. “Parece que até recentemente não havia um texto chinês com o esboço do acordo comercial e que as discussões eram baseadas no texto em inglês e em discussões verbais”, disse Dennis Wilder, ex-analista da CIA para a China. “No fim do processo, o texto em chinês teve de circular no Politburo e minha impressão é que os comentários surgiram aí.”
Os EUA ameaçam agora subir as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, de 10% para 25% a partir desta sexta-feira.
EUA e China concordaram em iniciar negociações comerciais numa reunião de cúpula em dezembro. Desde então, os dois lados realizaram várias discussões ministeriais, e Trump vinha repetidamente falando em avanços.
A iniciativa “Made in China 2025”, do presidente Xi, continuou sendo um ponto delicado nas discussões. Lançada em 2015, seu objetivo é transformar a China numa potência industrial de ponta por meio de mais de US$ 500 bilhões em subsídios estatais.
Os EUA pressionaram a China para abandonar todos os subsídios que violam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), e a China concordou em recuar em negociações como sinal de compromisso. Mas a China começou a procurar brechas na última hora, como revela sua hesitação em conter os subsídios dos governos regionais, segundo uma autoridade do grupo econômico.
Os países continuam divididos sobre os pontos finais, incluindo a proibição das transferências forçadas de tecnologia de empresas americanas, o acesso ao mercado da computação na nuvem e a proteção a produtos farmacêuticos.
Um ex-negociador comercial americano disse ao “Nikkei” que é uma tática padrão de negociação dos EUA suspender as discussões nos últimos estágios para extrair o máximo de concessões do outro lado. O Departamento do Comércio da China anunciou ontem que Liu participará das negociações amanhã e sexta-feira em Washington. O fato de a China aceitar participar depois das ameaças de Trump é, por si, uma concessão.
Pequim enfrenta agora a difícil decisão entre aceitar tarifas maiores ou ceder nos subsídios, em meio a pressões crescentes internas para se impor frente aos EUA. Com a proximidade dos 30 anos do massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen), em 4 de junho, o governo Xi está particularmente sensível à opinião pública.

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