Startups aceleram ‘Uber dos caminhões’

Mais uma etapa de expansão… No exemplo mais recente dos esforços do Vale do Silício para revolucionar a economia tradicional, investidores estão injetando milhões de dólares em jovens empresas de tecnologia que pretendem revolucionar o bilionário setor de transporte rodoviário de cargas.

Várias “startups” estão na briga para se tornar um “Uber de caminhões”, transformando os smartphones de caminhoneiros numa ferramenta para conectá-los rapidamente com empresas próximas que precisam transportar mercadorias. Essas firmas novatas pretendem reinventar a fragmentada indústria de transporte rodoviário de carga dos Estados Unidos, que há muito depende de intermediários que essencialmente atuam como agentes de viagem, conectando caminhoneiros a clientes potenciais, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Jack Nicas, publicada no Valor de 28/10, pg B9

O interesse do Vale do Silício no transporte por caminhão acelerou nos últimos meses. A Trucker Path Inc., que tem sede em San Francisco, afirma que planeja fazer rodadas de captação que a avaliem em US$ 1 bilhão no próximo ano. A mais recente participante desse mercado, a Convoy, com sede em Seattle, anunciou na terça-feira passada que captou US$ 2,5 milhões em financiamento-semente de investidores, incluindo Jeff Bezos, fundador da Amazon.com Inc., Marc Benioff, fundador da Salesforce.com Inc., Pierre Omidyar, fundador do eBay Inc., e Garrett Camp, um dos fundadores da Uber Technologies Inc.

“Eu nunca vi uma oportunidade de mercado maior” que essa, diz Hadi Partovi, um dos primeiros investidores do Facebook Inc., Airbnb Inc. e Dropbox Inc., que também está investindo na Convoy.

Partovi e outros estão de olho num setor que gerou receitas de US$ 700 bilhões no ano passado. Em comparação, ele diz que a maioria das startups mira mercados que movimentam de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões por ano.

As startups de caminhões, porém, enfrentam grandes obstáculos, incluindo transportadoras avessas ao risco e caminhoneiros avessos à tecnologia. Analistas dizem que essas firmas novatas podem ser eficazes na organização de entregas locais, mas acrescentam que essa é apenas uma fração do mercado global de transporte por caminhão.

“Os caminhoneiros são bastante reticentes no que se refere à adoção das opções tecnológicas disponíveis”, diz Jack Atkins, analista de transporte do banco de investimentos Stephens Inc. “Há um monte de peças em movimento e eu não vejo a possibilidade de um aplicativo criado por alguém de fora da indústria – dadas, simplesmente, as complexidades do mercado de transporte de carga por caminhões – realmente chegar e ter um impacto transformador.”

As startups têm como alvo tanto cargas completas de caminhões quanto o transporte de volumes menores.

A Convoy, incorporada como Greypoint Inc., informa que empresas que precisam transportar mercadorias localmente podem usar seu site para contratar o serviço, obter um preço de forma instantânea e acompanhar o transporte da carga em tempo real. A Convoy define o preço com base numa fórmula.

Mike Williams, diretor global de rede de suprimento da World Vision, uma organização humanitária cristã, diz que, em dois meses usando a Convoy, o serviço o conectou com um caminhoneiro geralmente dentro de quatro a cinco minutos, enquanto alguns intermediários levam horas. Williams diz que rapidez é fundamental porque a organização faz reservas de último minuto para muitas das 3 mil entregas domésticas que faz todo ano de itens como roupas, móveis e materiais escolares e médicos.

Pelo menos sete outras startups estão se concentrando num mercado semelhante, incluindo a KeyChain Logistics, a Transfix e a Trucker Path, que captou US$ 20 milhões em julho.

A Cargomatic Inc., baseada em Los Angeles, procura preencher espaços vazios em caminhões ao conectar empresas que querem enviar artigos com caminhoneiros que passarão em sua área. A empresa, que foi fundada há dois anos, tem 58 funcionários e captou US$ 12 milhões, já facilitou dezenas de milhares de entregas em Nova York e Los Angeles até agora neste ano, diz o diretor-presidente, Jonathan Kessler.

Kessler diz que a Cargomatic espera aplicar ao transporte de cargas os princípios da “economia compartilhada”, cujos pioneiros foram o Uber e o Airbnb. “Isso significa que os caminhões ficam mais cheios por mais tempo e tomam rotas mais curtas para coletar cargas”, diz ele.

Dan Lewis, de 34 anos, diretor-presidente da Convoy, diz que a empresa fortalece firmas de transporte pequenas e caminhoneiros independentes, dando a eles acesso direto a um fluxo constante de clientes.

“Você não pode ter um milhão de pequenas empresas de transporte de carga por caminhão sem intermediários, mas eles estão cobrando tarifas pesadas sem adicionar muito valor”, diz ele, observando que a tarifa média cobrada por esses corretores é de aproximadamente 20%. Lewis diz que a comissão da Convoy varia, mas é inferior a 20%. “Isso a torna muito mais eficiente e (os caminhoneiros) podem ganhar muito mais por cada trabalho.”

A XPO Logistics Inc., que faz a corretagem de fretes, entre outros serviços, afirma que está investindo milhões de dólares em tecnologia. “Muitos aspectos da corretagem de transporte acabarão sendo revolucionados pela tecnologia”, diz Bradley Jacobs, o diretor-presidente.

O transporte de carga rodoviário não é o único setor de logística vivendo uma possível transformação. O Uber e outros rivais já estão tentando roubar negócios de gigantes da entrega de encomendas menores, como a United Parcel Service Inc. e os serviços de entrega no mesmo dia da FedEx Corp. Para cargas maiores que precisam ser transportadas a longa distância, há a Roadie Inc., que procura atrair estudantes universitários e outros viajantes interessados em ganhar um dinheiro extra entregando encomendas no caminho de onde já estão indo.

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