Segredos do Netflix expostos em Hollywood

Quando perguntada se sabia quantas pessoas assistiam a série “Unbreakable Kimmy Schmidt” (algo como “A Indestrutível Kimmy Schmidt”, em tradução livre) no serviço de streaming de TV pela internet Netflix, uma de suas criadoras, a atriz e roteirista Tina Fey, disse que não tinha ideia.

“Nós não temos os números”, disse Tina em recente encontro de críticos de TV. “Eu acho que muita gente está vendo o programa.”

O Netflix é notavelmente reservado quando se trata de compartilhar essas informações – seja com fornecedores de conteúdo, a mídia ou Wall Street -, argumentando que, como não tem que agradar anunciantes, a audiência para seu serviço de assinatura de streaming é irrelevante como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Joe Flint e Ben Fritz, publicada no Valor de 28/08, pg B7.

Agora, Hollywood está tendo a primeira oportunidade real de acessar a caixa preta do streaming de vídeo on-line. Nos últimos meses, a especialista em medições de audiência Nielsen vem ampliando um programa para rastrear o público do Netflix e outros serviços on-line como o Prime Instant Video, da Amazon.com, e o Hulu. A Nielsen afirmou que agora está monitorando quase mil programas.

A maioria dos grandes estúdios de TV está recebendo relatórios detalhados de como está o desempenho de sua programação, incluindo o número total de espectadores e dados demográficos básicos como idade e gênero, informou a Nielsen.

Para os gigantes da mídia americana como a NBCUniversal, da Comcast, Time Warner e 2 1st Century Fox, os novos dados podem fornecer mais poder nas negociações de licenciamento de conteúdo com os serviços de streaming, especialmente com o gigante do setor Netflix. Quando os programas têm um bom desempenho, eles saberão que podem pedir uma tarifa mais alta na renegociação dos contratos.

Ao mesmo tempo, se os dados revelarem que o conteúdo original do Netflix não é tão popular quanto os programas que compra de outros produtores, isso pode ser uma preocupação para Wall Street, considerando as enormes somas que a empresa tem investido em seus próprios programas.

A Netflix tem desconsiderado os esforços da Nielsen, notando que a empresa ainda não fornece a audiência para conteúdo visto em tablets e telefones e que seus números não incluem as exibições de programas fora dos Estados Unidos.

Há limites para as empresas de mídia barganharem poder. Apesar de sua apreensão com o Netflix – e seu papel em afastar audiências da TV tradicional -, elas conseguiram um crescimento de receita robusto com seus pacotes de licenciamento com as empresas de streaming. Os serviços de streaming como Netflix, Hulu e Amazon investirão US$ 6,8 bilhões este ano com a compra de reprises de programas de TV de redes e estúdios, estima David Bank, analista da RBC Capital Markets.

O Netflix compartilha algumas informações de audiência com estúdios selecionados. Aqueles que possuem grandes contratos de licenciamento de conteúdo com o Netflix têm conseguido acessar dados, como o número de vezes que o programa foi visto em streaming por mês e algumas informações de como um programa está retendo a audiência em vários episódios, segundo pessoas a par do assunto. Entretanto, o Netflix não fornece informações demográficas detalhadas ou quantas pessoas assistiram a um episódio separadamente.

Alguns fornecedores importantes informaram que eles não obtêm qualquer informação do Netflix e expressaram surpresa e desapontamento ao saber que alguns concorrentes sim, já que o mantra do Netflix têm sido que ele não compartilha dados de audiência. A Amazon e o Hulu têm uma estratégia similar para compartilhar dados com fornecedores de programas.

Um porta-voz do Netflix informou que os dados que têm sido compartilhados são “muito limitados” e que a empresa não está compartilhando nenhum dado de produções originais do Netflix, incluindo programas produzidos por grandes estúdios. A única exceção é o “Arrested Development”, da Twentieth Century Fox Television, afirmou o porta-voz.

Por ora, a Nielsen está compartilhando dados de programas apenas com os estúdios proprietários e que pagam pela informação. Com o tempo, a empresa espera “distribuir” os dados de forma ampla no setor, para que os estúdios possam comparar sua audiência com outras, o que também os ajuda nas negociações de contrato.

A Nielsen está medindo a audiência dos streamings através da mesma amostra de mais de 25 mil domicílios americanos que ela usa para medir os índices da TV tradicional. Os estúdios fornecem arquivos digitais para a Nielsen que permitem que a empresa acesse dados de audiência. A Nielsen pode medir qualquer programa que um estúdio produziu, incluindo originais criados exclusivamente para os serviços de streaming.

Os dados fornecidos para os estúdios não especificam qual serviço de streaming em que o programa foi visto, mas os estúdios podem deduzir isso, já que geralmente eles possuem vínculos exclusivos com os serviços de streaming por determinados períodos. Nem todo mundo está animado com os primeiros resultados da Nielsen. Um executivo de um estúdio disse que as amostras da Nielsen não são amplas o suficiente e não registram a audiência de tablets e de outros dispositivos móveis. A Nielsen está planejando incluir tais medições no futuro próximo.

Já estão surgindo empresas concorrentes da Nielsen, como a Luth Research e a Symphony Advanced Media, que oferecem informações sobre audiência de serviços de vídeo por assinatura.

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