Retomada forte nos EUA e na UE eleva pressão inflacionária

Empresas da Europa e dos EUA estão registrando aumentos quase recordes dos níveis de atividade. Isso está criando escassez generalizada de oferta e elevando os preços, num momento em que essas economias se recuperam dos efeitos da pandemia de covid-19. 

O nível de atividade econômica na zona do euro teve neste mês sua expansão mais forte em 15 anos, após a suspensão de medidas de “lockdown”. A atividade econômica no Reino Unido também continuou aquecida, segundo índices dos gerentes de compras (PMI) da IHS Markit divulgados ontem. 

Nos EUA, o índice de atividade industrial subiu pelo quarto mês seguido, para seu maior patamar desde o início da série histórica do PMI, em 2007; o de serviços caiu, mas ficou próximo dos recordes. 

Esses resultados sugerem que as principais economias da Europa terão uma sólida recuperação neste segundo trimestre, após as contrações históricas sofridas devido à pandemia no último ano, dizem analistas. Dados de alta frequência recentes indicam que os europeus voltaram a frequentar bares e restaurantes, a fazer reservas de férias e a se deslocar para trabalhar. 

“Os dados [do PMI da zona do euro] armam o cenário para uma expansão contundente do [Produto Interno Bruto] no segundo trimestre”, disse Chris Williamson, economista-chefe da IHS Markit. 

O dado preliminar do PMI da zona do euro da IHS Markit subiu de 57,1 em maio para 59,2 em junho, o maior nível desde junho de 2006 e bem superior às expectativas de economistas. Dados acima 50 indicam expansão da atividade. 

O PMI da Alemanha subiu para o seu melhor nível em dez anos, de 60,4. O PMI do Reino Unido foi de 61,7, uma das mais altas desde o início da série, em 1998. 

“É um momento de forte crescimento para as empresas da zona do euro, apesar de não ser tanto o nível dos PMIs o que interessa, e sim, o sentido que eles tomam”, disse a economista Nadia Gharbi, da Pictet Wealth Management. 

Mas o aumento da pressão inflacionária está se tornando um problema tanto na Europa quanto nos EUA, com as empresas informando que estão repassando a alta dos custos dos insumos aos clientes a uma taxa sem precedentes. 

A IHS Markit disse que empresas da zona do euro relataram o maior aumento de sua carteira de encomendas desde o início da coleta de dados, em 2002, com problemas de abastecimento se propagando do setor industrial para o de serviços, onde os pedidos cresceram à maior taxa em mais de 20 anos. 

Um cenário semelhante ocorre no Reino Unido, onde a inflação dos custos dos insumos subiu pelo quinto mês seguido, igualando a taxa anterior mais alta já registrada. Essa medida de preços da produção teve sua maior alta histórica pelo segundo mês seguido. 

Empresas americanas também enfrentam restrições de abastecimento, segundo a pesquisa PMI. Os produtores de bens foram ”especialmente afetados por atrasos significativos de fornecedores”, e tanto a indústria quanto os serviços relataram “dificuldades de encontrar funcionários”. 

A recuperação atual da economia americana foi descrita como “robusta” pelo presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, que atribui isso à vacinação mais rápido do que o esperado no país. 

Williamson disse que a economia dos EUA segue “muito aquecida” e que os preços dos produtos e serviços “ainda estão subindo de forma acentuada, os episódios de escassez de abastecimento estão piorando, em vez de melhorar, as empresas enfrentam dificuldades para preencher vagas e os estoques das fábricas estão se esgotando a uma taxa alarmante, num momento em que empresas têm problemas em atender à demanda”. 

Ele previu “mais pressão de alta da inflação nos próximos meses”, acrescentando que muitas empresas “têm dificuldades em atender à demanda, diante da escassez de insumos e de pessoal”. 

A inflação já superou as metas tanto do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (o BC britânico), mas ambos preveem que as pressões sobre os preços perderão força no ano que vem. 

Nos EUA, a inflação está bem acima da meta do Federal Reserve (Fed, o BC americano) e as autoridades sinalizaram sua intenção de começar a elevar o juro em 2023. No entanto, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, afirmou ontem que a inflação deve recuar até o fim do ano, à medida que os gargalos na oferta são resolvidos. 

As empresas de serviços da zona do euro informaram uma recuperação especialmente forte e “aumento dos preços dos fornecedores, elevação dos custos de combustível e de transportes e pressões salariais crescentes”, disse a IHS Markit. Os preços cobrados por produtos e serviços “aumentaram a uma taxa sem precedentes”. 

As empresas do Reino Unido estão contratando no ritmo mais forte já registrado pela IHS Markit, enquanto na zona do euro as contratações alcançaram seu maior nível desde agosto de 2018. 

A demanda por mão de obra disparou de repente, pois boa parte da economia reabriu ao mesmo tempo, e esse não é um processo fácil”, disse Jack Allen-Reynolds, da consultoria Capital Economics. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/06/24/retomada-forte-nos-eua-e-na-ue-eleva-pressao-inflacionaria.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação