Rede social é arquibancada em Tóquio

Na primeira Olimpíada sem a presença do público, por conta da covid-19, as redes sociais têm sido verdadeiras arquibancadas para os jogos de Tóquio. 

A torcida brasileira é uma das mais animadas nas redes. De 26 a 29 de julho, o Brasil ficou entre os cinco países que mais comentam sobre os jogos no Facebook. Um levantamento da rede social mostra que atletas brasileiros medalhistas como a ginasta Rebeca Andrade, a skatista Rayssa Leal e o surfista Ítalo Ferreira estão entre os nomes mais mencionados globalmente, tanto no Instagram quanto no Facebook. Entre as medalhas de prata, na quinta-feira, e de ouro no domingo, o número de seguidores de Rebeca no Instagram deu um salto para 2,2 milhões. O ouro levou Rebeca a ser um dos assuntos mais comentados no Twitter no domingo. No YouTube, a vitória elevou a audiência do funk “Baile de Favela”, de MC João, que embalou o solo da ginasta. Entre 25 e 31 de julho, vídeos da música foram reproduzidos mais de 850 mil vezes, gerando 65,4% das visualizações do canal. 

Na estreia olímpica do skate, Rayssa Leal, de 13 anos, não só levou a prata e tornou- se a medalhista mais jovem do país, como tem dominado a audiência nas redes sociais. Desde a abertura dos jogos, no dia 23 de julho, até segunda-feira, o número de seguidores da atleta disparou para mais de 6,5 milhões – são 5,6 milhões de novos de seguidores somente durante os jogos olímpicos. A jovem skatista também é uma das mais populares no TikTok, onde tem 3,4 milhões de fãs. Na plataforma de vídeos curtos, 1,1 milhão de pessoas seguem o surfista Gabriel Medida e ainda levam ao pódio de popularidade atletas como Rayan Castro, da ginástica de trampolim, e Juliana Campos, do salto com vara. 

O sucesso nas redes sociais – de atletas como Rayssa e Letícia Bufone, que representaram o skate brasileiro na estreia olímpica, e Douglas Souza, do vôlei – também se deve à proximidade criada com os fãs, que puderam conhecer os bastidores de Tóquio. “Em um evento olímpico, a rede se transforma num grande estádio com acesso ilimitado, que vai muito além da primeira fila da arquibancada”, diz Felipe Kozlowisk, líder de parcerias do Instagram no Brasil. 

Acompanhar o dia-a-dia na Vila Olímpica, do cardápio do refeitório à fila na lavanderia, aproximou ainda mais o público dos competidores brasileiros. 

“As pessoas estão curiosas para saber o que a gente faz no dia a dia, como são os bastidores, o que estamos sentindo e, assim, ficamos um pouco mais próximos nesse momento de pandemia”, disse o jogador de vôlei Douglas Souza ao Valor. “Só quem está ali dentro pode contar sobre a saga da lavanderia”, comenta Kozlowisk. 

Embora tenha feito mais posts durante a competição da Liga das Nações de Voleibol Masculino de 2021, em junho, Souza se disse chocado ao receber mais de 100 mil novos seguidores no Instagram em 24 horas, pouco antes da Olímpíada. Na segunda-feira, o perfil do jogador tinha mais de 2,8 milhões de seguidores no Instagram e 710 mil no TikTok. 

Pouco antes da chegada da seleção brasileira de vôlei masculino às quartas de final, Souza optou por ficar mais tranquilo com as postagens. “Estamos mega concentrados no nosso trabalho”, diz o atleta. 

Antes das competições, Rebeca Andrade também seguiu o ditado que diz que o segredo do sucesso é o silêncio. Alguns de seus movimentos ficaram longe da internet e surpreenderam as equipes rivais durante as provas. 

Com o avanço das seleções brasileiras de vôlei feminino e masculino na competição, a modalidade passou a liderar a lista de esportes mais comentados no Twitter, com destaque para Lucão, meio de rede (central) da seleção brasileira, que ficou entre os dez atletas mais comentados no Twitter brasileiro na segunda-feira. No mesmo dia, o ponteiro Lucarelli ganhou 100 mil seguidores no Instagram, onde conta com 790 mil fãs. 

As redes também abrem espaço para manifestações sociais, como as do atacante Richarlison, da seleção brasileira de futebol, que defende temas como educação, meio ambiente e a pesquisa científica no combate à covid. No fim de semana, o “Pombo”, apelido que ganhou pela coreografia do funk “Dança do Pombo”, foi o atleta que mais ganhou seguidores no Facebook, onde tem 3,27 milhões de fãs. 

O skate, modalidade estreante nos jogos olímpicos ao lado do surfe, segue popular no Twitter, como segundo esporte mais comentado depois do vôlei. 

Letícia Bufoni, que já era popular no Instagram, com mais de 3 milhões de seguidores no perfil antes dos jogos, conta que a interação com o público ainda é intensa, mesmo depois de encerrada a sua participação. 

“É impressionante como pessoas que conheceram o esporte agora já admiram tanto o skate e os skatistas”, afirma a atleta brasileira, que inspirou Rayssa a seguir no esporte. 

Letícia diz que tem recebido muitas mensagens de pessoas interessadas em aprender a andar de skate e de marcas. “Por mais que o skate nunca tenha precisado da Olimpíada para ser um esporte grande, a visibilidade aumentou muito”, afirma. 

A popularidade nas redes também contribui com a estreia de Letícia como empresária. Em meados de julho, a atleta lançou uma marca própria de shape – a prancha do skate – em parceria com a atleta britânica Sky Brown. “Durante a pandemia consegui me concentrar nesse sonho antigo”, conta. Voltada a um público mais avançado no esporte, a linha chamada Monarch deve chegar ao Brasil ainda neste ano. 

“É muito bacana que os atletas aproveitem ao máximo esse poder que as redes têm de estimular conversas e atrair interesse de marcas”, avalia Kozlowisk, do Instagram. “Desejamos que não seja um interesse instantâneo e que se perpetue depois da competição”, conclui. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/08/04/rede-social-e-arquibancada-em-toquio.ghtml

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