O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou decreto determinando a terceira expansão de suas Forças Armadas desde que invadiu a Ucrânia, em 2022.
Se completada a meta, a Rússia terá 1,5 milhão de militares em serviço ativo, constituindo o segundo maior contingente do mundo depois da China, que tem 2,035 milhões, de acordo com o IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres).
O número aumentaria em 180 mil o pessoal fardado ante o nível atual, que foi alcançado após 307 mil vagas serem abertas em duas rodadas nos últimos dois anos. É quase o total do efetivo brasileiro, de 367 mil militares. Em 2023, ele não estava completo: havia, segundo o IISS, 1,1 milhão de soldados de Putin.
Hoje, depois da China, as maiores forças em termos de pessoal são as da Índia (1,47 milhão), Estados Unidos (1,32 milhão) e Coreia do Norte (1,25 milhão). A pequena ditadura de Kim Jong-un é a mais militarizada, tendo apenas 26,5 milhões de habitantes, ante 1,3 bilhão dos chineses, por exemplo.
O contingente total de pessoal sob o Ministério da Defesa russo será de 2,38 milhões de funcionários, incluindo aí os combatentes. Em termos de gasto militar, a Rússia ficou em 2022 atrás da China, que tem um orçamento de defesa duas vezes maior do que o do aliado; e dos EUA, que gasta oito vezes mais que Moscou.
O anúncio não contempla nenhum tipo de mobilização. Segundo o decreto, o número deve ser atingido por meio do serviço militar anual, voluntários e soldados profissionais sob contrato.
Na única mobilização de reservistas que fez, no fim de 2022, Putin conseguiu os cerca de 300 mil homens de que precisava, mas enfrentou uma dura resistência à impopular medida, até com raros protestos contra seu governo.
Essa medida, somada ao emprego de forças mercenárias, estabilizou a situação na Ucrânia após a invasão falhar em subjugar o vizinho rapidamente. Além de erros táticos e logísticos, a falta de mão de obra no ataque com 200 mil militares foi um dos motivos apontados por observadores pelo fracasso.
Agora, o problema está com os ucranianos. Com a lei marcial, Kiev foi de 200 mil para 800 mil combatentes de 2022 parar cá, mas tem tido dificuldades em manter as rotações na linha de frente. Novas regras tentam ampliar a mobilização.
A medida de Putin vai em linha com a crescente militarização da sociedade russa, país com 146 milhões de moradores, incluindo aí os 2 milhões de habitantes da Crimeia, anexada em 2014.
A retórica belicista foi às alturas com a guerra, que é apresentada pelo Kremlin como uma disputa existencial entre Moscou e o Ocidente, que sustenta as forças de Kiev com armas e logística.
A tensão atingiu um ponto paroxístico na semana passada, com Putin ameaçando uma guerra com a aliança militar liderada pelos EUA, a Otan, caso armas de longo alcance ocidentais sejam empregadas conta alvos distantes na Rússia.
Por ora, os EUA e aliados como a Alemanha se negam a permitir tal uso, mas há uma pressão constante do presidente Volodimir Zelenski e de países europeus menos preocupados com o risco de uma escalada potencialmente nuclear da crise, como Reino Unido, Polônia e Estados bálticos.
O tema deverá ser cozinhado até a Assembleia-Geral da ONU, na semana que vem. Há a expectativa de que essa linha vermelha, como outras anteriores, seja de algum modo cruzada. Anteriormente, o Kremlin também protestou, mas ao fim blindados, tanques, sistemas antiaéreos e até alguns caças foram dados a Kiev.
Enquanto isso, os combates seguem na Ucrânia, com 53 de 56 drones lançados pelos russos nesta madrugada sendo derrubados, segundo Kiev. Também nesta segunda acaba o maior exercício militar da Marinha russa desde a Guerra Fria, que mobilizou 90 mil militares e quase toda a frota do país.