Muita gente perguntou o que aconteceria se o petróleo voltasse a US$ 70 o barril? Na sexta-feira, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu não agir para conter o excesso de oferta mundial de petróleo, o custo do barril alcançou exatos US$ 72,90. Foi a maior queda na cotação da commodity em mais de três anos.
A OPEP manteve o teto para sua produção coletiva em 30 milhões de barris por dia (b/d), segundo anunciou o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali Al-Naimi, depois de reunião dos 12 países da Opep em Viena. O barril de petróleo chegou a cair 8,4% em Londres, estendendo a desvalorização neste ano para 35%, como mostrou a material do Valor Econômico, na edição de 30/11.
O mercado de petróleo passou a operar com tendência de queda depois de os EUA terem extraído este ano o maior volume do produto em mais de 30 anos e pelo fato de os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia não terem interrompido a produção. Embora o teto de produção da Opep seja o mesmo desde 2012, o grupo na verdade produziu quase 1 milhão de barris a mais em outubro, de acordo com dados reunidos pela Bloomberg.
“A Opep escolheu abdicar de seu papel de controlador [dos preços], deixando para o mercado decidir qual deve ser o preço do petróleo”, disse Harry Tchilinguirian, chefe de mercados de commodities do BNP Paribas, em Londres, por telefone. “Não será surpresa se o Brent começasse a testar os US$ 70.” Ou menos!
O tipo de petróleo Brent, referencial mundial, está a caminho de ter seu maior declínio anual desde 2008 na bolsa ICE Futures Europe, em Londres. “A mudança é que a Arábia Saudita e a Opep não vão mais administrar o lado da oferta no mercado”, disse Michael Wittner, chefe de análises do mercado de petróleo do Société Générale, por e-mail. “Isso é tão importante que é difícil de destacar o quanto”.
A Opep se reune de novo em 5 de junho em Viena. Tariq Zahir, analista da Tyche Capital Advisors, de Nova York, disse que a queda do petróleo pode continuar até abaixo de US$ 65 o barril nas próximas semanas, o que pode começar a prejudicar a produção de óleo de xisto nos EUA. “Acho que começamos a ter uma guerra de preços”, disse Zahir. “Seria meio louco tentar adivinhar um fundo do poço aqui.”
Outros analistas concordam que a decisão da Opep deixa o petróleo vulnerável a quedas muito maiores, à medida que uma oferta abundante de petróleo leve, de alta qualidade, chega ao mercado, boa parte vindo do xisto dos EUA.