Editoriais da revista norte-americana “The Atlantic” e do jornal “USA Today” publicados nesta semana declararam o apoio dos dois veículos à candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton.
O caso chamou a atenção por ser apenas a terceira vez na história em que a revista se posicionou politicamente nas eleições –depois de ter apoiado Abraham Lincoln, em 1860, e Lyndon B. Johnson, em 1964– e por ser o primeiro posicionamento oficial do jornal em eleição presidencial (ainda que indireto) em 34 anos.
O posicionamento das duas publicações é um reflexo de uma tendência crescente na mídia dos EUA. Nas últimas semanas, a imprensa do país está se colocando fortemente contra o republicano Donald Trump, e defendendo o voto em Hillary, como mostrou matéria de Daniel Buarque , na Folha de São Paulo de 06/10.
O posicionamento pró-Hillary de veículos de imprensa mais tradicionalmente liberais, ligados aos democratas nos EUA, como o “New York Times” e o “Washington Post”, não chegou a surpreender. Mas impressiona o posicionamento crítico de publicações que normalmente se colocam como politicamente neutras, e o fato de até mesmo veículos tradicionalmente ligados a eleitores e políticos republicanos estarem apoiando Hillary, ou o libertário Gary Johnson, em detrimento de Trump.
Foi o caso do “New Hampshire Union Leader” e o “Cincinnati Enquirer”, que apoiavam republicanos para presidente há um século, e defenderam o voto em Johnson e Hillary neste ano.
Assim também o “Arizona Republic”, defensor de voto republicano desde 1890, o “Dallas Morning News”, que desde 1940 sempre apoiou republicanos. O “Detroit News”, que defendeu voto em republicanos desde sua fundação, em 1873, foi contra Trump e Hillary, defendendo o voto em Johnson.
Segundo uma reportagem do “New York Times”, a candidatura de Trump criou uma divisão dentro da mídia tradicionalmente conservadora nos Estados Unidos –normalmente personificada em torno da rede de TV Fox News. O jornal diz que mesmo que muitos dos republicanos nesses grupos de mídia digam que vão votar em Trump na eleição, eles têm se recusado a “jogar confete” no candidato, como diz um dos entrevistados.
Mesmo sem uma declaração formal de apoio, veículos como a rede Fox News e os sites Breitbart e Drudge Report normalmente são elencados entre os que apoiam Trump. Logo depois do primeiro debate entre os candidatos, os comentaristas da Fox News deram espaço ao republicano e defenderam que ele havia vencido o encontro, ao contrário do que diziam as principais análises sobre o debate.
Em comum, a maioria desses posicionamentos da imprensa a favor de Hillary têm um tom altamente crítico ao candidato republicano –mais do que uma defesa da democrata.
Com o título “Contra Donald Trump”, o texto da “Atlantic” diz que o republicano pode ser “o candidato mais ostensivamente despreparado de um grande partido nos 227 anos de história da Presidência norte-americana”. Hillary, por outro lado, observa o editorial, tem o direito de ser levada a sério como uma pretendente à Casa Branca, ainda que tenha falhas.
O “USA Today” diz que a opinião unânime do seu conselho editorial é de que Trump é “inapto para a Presidência”. Tanto assim que seu apoio a Hillary foi colocado como um “apoio contrário” a Trump, uma indicação de que as pessoas não deveriam votar nele.
“Desde o dia em que declarou sua candidatura, 15 meses atrás, até o primeiro debate, Trump demonstrou repetidamente que não tem o temperamento, o conhecimento, a segurança e a honestidade que os EUA precisam dos seus presidentes”, diz o jornal.
Na mesma linha, o “Washington Post” estampou um título acusando o “perigo claro e presente” representado pelo republicano.