O discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da Rio + 20 foi um sutil “puxão de orelha”. A presidente disse que o documento final lentamente elaborado ao longo da Reunião Preparatória e aprovado pelos representantes de 193 países foi “fruto do consenso”. Dilma defendeu a necessidade de impedir qualquer retrocesso em relação a Rio 92 e as mudanças necessárias para atingir o desenvolvimento sustentável.
A frase era resposta direta a várias ONGs e dirigentes de alguns países que pretendiam retirar do documento a expressão: “com plena participação da sociedade civil”. O alvo dessa queixa era que este documento final era muito “morno”, com poucas ambições em relação a um “futuro melhor” em tempo mais curto para o planeta. Ou seja, as maiores ONGs internacionais e lideranças, principalmente europeias, desejavam a assinatura de compromissos bem definidos com prazos marcados. Nestas condições, a maior parte dos países ricos não assinaria o documento e o risco era alto da Rio + 20 terminar sem qualquer avanço.
O negociador chefe da delegação brasileira na conferência, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, completou a reação da presidente Dilma quanto às críticas do documento final acordado, com palavras fortes para um diplomata: “quem exige ambição de ação e não põe dinheiro na mesa está sendo no mínimo incoerente”. Era resposta direta à resistência dos países ricos a assumirem compromissos que implicassem financiamento.
Nesse quadro, a ação da diplomacia norte americana foi bem cautelosa. A secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que amanhã apresentará plano de um novo “mecanismo de financiamento em energia limpa”, sem antecipar detalhes. Ninguém espera algo muito grande. Na Rio + 20 os americanos optaram por um tom bem low profile, incluindo a não participação do presidente Obama. Motivo: qualquer coisa que ele dissesse perderia votos, na próxima eleição presidencial em novembro. Seja com os empresários, já bem preocupados com a crise econômica, seja com os liberais que esperam compromissos bem fortes com a causa ecológica do presidente Obama. Talvez, a chanceler alemã Angela Merkel tenha percebido a mesma dificuldade. Aliás, Merkel também enfrentará as urnas no ano que vem.