Uma agência de classificação de risco, a Moody’s, rebaixou a nota da França de AAA para AA1. E ainda colocou uma perspectiva negativa para o país. O que significa esta perda? Por que essa avaliação negativa foi manchete em quase todo o mundo? A primeira resposta é que a partir de agora a França deverá pagar juros mais altos quando quiser vender títulos de sua dívida pública. Ou, em outras palavras: quando o governo francês gastar mais do que arrecada e precisar pedir dinheiro emprestado – no formato de títulos – o custo desses empréstimos ficará mais alto porque o país ficou menos confiável aos olhos dos investidores.
Mas, a França, ao lado da Alemanha não formam os dois países mais fortes da União Europeia? Aparentemente sim, mas não é mais exatamente desse jeito. Para entender melhor este quadro, em que a França parece ser um país mais forte do que realmente é, basta observar as explicações dadas pela agência de risco para rebaixar a nota da França. O primeiro problema que os economistas da agência encontraram é que a França enfrenta o que eles chamaram de “desafios estruturais”, caracterizados por duas situações. Primeiro, a perda competitividade dos produtos franceses, o que quer dizer o mesmo produto fabricado em outro país do bloco é bem mais barato. E, depois, a rigidez do mercado de trabalho francês.
A primeira explicação da agência é mais fácil de entender; a segunda exige alguns detalhes. A mão de obra francesa é bem educada, mas a produtividade do trabalhador no país é bem menor do que a de outros concorrentes, especialmente a Alemanha. Um dos motivos é quantidade de horas trabalhadas, mas não é só. A formação técnica do trabalhador francês é menor do que a de seus concorrentes o que significa mais tempo de trabalho para alcançar a mesma produção.
Também, o custo da mão de obra francesa é maior. A revista The Economist mostrou que o trabalhador da indústria automobilística francesa Peugeot quando trabalha na Eslováquia recebe em torno de dez euros pro hora trabalhada. Para fabricar o mesmo carro na França esse trabalhador receberia 35 euros pela mesma hora trabalhada. Os produtos franceses com esta estrutura ficam bem mais caros.
Há outro motivo para o rebaixamento da nota francesa: a deterioração do cenário fiscal. Esta expressão significa que a forma preferida do governo francês para enfrentar a crise é aumentando imposto e não cortando gastos. Nas últimas duas semanas o governo de François Hollande avisou que teria de cortar gastos também e não só aumentar impostos para enfrentar a crise. Era tarde para mudar a percepção das agências de risco. Muito imposto também tem a ver com o tamanho do Estado francês que é bem maior, por exemplo, do que o estado alemão. Para entender isto basta o seguinte exemplo, também dado pela revista The Economist: para cada mil habitantes alemães existem 50 funcionários públicos; na França a cada mil habitantes são 90 servidores públicos. Portanto, a conta do tamanho do Estado fica bem cara.
Há mais uma questão: os bancos franceses, como alertou a Moody’s, estão muito endividados com títulos de países que estão com sérios problemas como a Grécia, por exemplo. Esse problema também pesou demais no rebaixamento da nota de risco da França.