No ano em que o termo “pós-verdade” se tornou um dos mais repetidos —em referência ao menosprezo da opinião pública por fatos objetivos—, uma pesquisa realizada em 40 países revela um amplo desconhecimento das pessoas sobre a realidade vividas por elas mesmas.
A pesquisa “Os Perigos da Percepção”, realizada pelo instituto Ipsos Mori, avaliou o conhecimento geral e a interpretação que as pessoas fazem sobre o país em que vivem e comparou esta percepção com dados oficiais de cada país.
O resultado indica que as pessoas têm uma interpretação muito equivocada da realidade. Entre os temas abordados, o levantamento mostra que a maioria dos países acredita que a riqueza é mais bem distribuída do que ela de fato é.
Além disso, pensam que a população do lugar onde vivem é menos feliz do que elas dizem ser, acham que a proporção de muçulmanos na sociedade é bem maior do que a realidade e que as pessoas são menos tolerantes em relação a homossexualidade, aborto e sexo antes do casamento do que elas de fato são, como mostrou matéria da Folha de São Paulo de 14/12
Segundo um dos diretores do Ipsos, Bobby Duffy, os erros na percepção podem ser justificados por uma sobrevalorização dos temas que preocupam a sociedade.
“Há muitos motivos para esses erros —da nossa luta para entender matemática básica e proporções à cobertura dos temas mencionados na mídia, e explicações da psicologia social para nossos atalhos mentais e nossa predisposição”, diz Duffy.
A partir dos dados coletados no levantamento e da sua comparação com dados reais, a pesquisa traçou o “índice de ignorância”, listando os países em que a percepção é mais distante da realidade.
A Índia aparece em primeiro lugar na lista, seguida pela China e por Taiwan. Na ponta oposta do índice, Holanda, Reino Unido e Coreia do Sul aparecem como países menos ignorantes.
O Brasil aparece em sexto lugar, logo após os EUA.
Segundo o Ipsos, o ranking “Índice de Ignorância” é formado a partir da média computada dos resultados no estudo. Por resultado, entende-se a diferença entre as respostas fornecidas pelos respondentes do estudo (percepções) e os dados oficiais de cada país (realidade). Quanto maior a diferença entre percepção e realidade, pior é a classificação do país. Todas as questões têm o mesmo peso.
Os entrevistados foram questionados a respeito da proporção de muçulmanos na população dos países em que vivem, por exemplo —e a velocidade em que esta proporção está crescendo. Na média, a diferença entre a percepção (19%) e a realidade (10,2%) apareceu em quase todos os países. A França, a África do Sul e as Filipinas foram os três países em que a percepção estava mais distante da realidade.
A pesquisa perguntou ainda aos entrevistados o percentual de pessoas que eles acham que se dizem felizes no país, a proporção de pessoas que acham que a homossexualidade é moralmente aceitável, e que acham que o sexo antes do casamento é moralmente aceitável. Perguntou ainda a proporção de pessoas que os entrevistados acham que o aborto é moralmente aceitável.
O levantamento também perguntou a respeito de desigualdade, querendo saber o percentual de riqueza possuídos pelos 70% mais pobres da população, bem como uma pergunta sobre a propriedade de casas e do percentual de gastos das famílias com saúde a cada ano.
Por último, perguntou sobre a percepção dos entrevistados sobre o tamanho da população no país.
O levantamento ouviu 27.250 pessoas entre setembro e novembro deste ano em 40 localidades usando uma combinação de métodos, incluindo pesquisas on-line, pelo telefone e presenciais.
A pesquisa avaliou a percepção da realidade de pessoas da Alemanha, da África do Sul, da Argentina, da Austrália, da Bélgica, do Brasil, do Canadá, do Chile, da China (e, separadamente, de Taiwan e de Hong Kong), de Cingapura, da Colômbia, da Coreia do Sul, da Dinamarca, da Espanha, dos Estados Unidos, da França, das Filipinas, da Hungria, da Índia, da Indonésia, de Israel, da Itália, do Japão, da Malásia, do México, do Peru, da Polônia, do Reino Unido, da Rússia, da Suécia, da Tailândia, da Turquia e do Vietnã.
Os dados coletados a respeito da percepção de realidade das pessoas foram comparados com informações de diferentes fontes oficiais e institutos de pesquisas respeitados internacionalmente.