Piora da covid adia retomada na Europa

Os economistas estão reduzindo suas previsões de crescimento para a zona do euro à medida que a alta de casos de covid-19 e atrasos na vacinação levam a restrições mais duras em vários países, como França, Itália e Alemanha. 

A reintrodução de medidas de “lockdown” em toda a Europa alimenta temores de que a região possa sofrer outra temporada decepcionante de turismo de verão se as vacinações não se acelerarem o suficiente para permitir o relaxamento das restrições a viagens. 

A França impôs um novo lockdown de quatro semanas em Paris e várias outras regiões na noite de sexta-feira, após a taxa de infecções ter alcançado seu nível mais alto desde novembro. A Itália anunciou mais um lockdown durante a Páscoa, enquanto algumas cidades alemãs foram obrigadas a retomar restrições que tinham acabado de suspender por causa da acentuada alta nas infecções. 

Isso levou economistas privados – Goldman Sachs, Barclays, ING e Berenberg – a cortar suas previsões para a economia da zona do euro – na contramão da melhora da perspectiva para os EUA e grande parte da economia mundial. 

“Até agora, nossas previsões para a zona do euro se baseavam na premissa de um relaxamento gradual das medidas de lockdown em março”, disse Carsten Brzeski, do ING. “Bom, podemos esquecer isso.” O ING revisou sua previsão de contração da região no primeiro trimestre de 0,8% para 1,5%. 

Para Holger Schmieding, do Berenberg, cada mês de lockdown tirará 0,3 ponto percentual do crescimento da zona do euro. Ele cortou sua previsão para 2021 de 4,4% para 4,1% – supondo um atraso de um mês na reabertura. 

Hoje, a premiê alemã, Angela Merkel, se reunirá com líderes regionais para discutir o endurecimento das restrições após a média de sete dias de novos casos por 100 mil habitantes ter alcançado 103,9 no domingo. Se essa média se manter acima de 100 por três dias seguidos, região afetada é obrigada a retomar o lockdown. 

Hamburgo e Colônia já endureceram suas restrições. Berlim estuda exigir que todos os viajantes vindos do exterior apresentem teste para a covid antes de partir e sejam postos em quarentena ao chegar, segundo um projeto em discussão revelado pelo jornal “Bild”. 

“É claro que os riscos permanecem inclinados para o lado negativo”, disse Nadia Gharbi, economista da Pictet Wealth Management. “Muita coisa dependerá da capacidade da União Europeia de acelerar as vacinações em abril e maio.” 

Na UE, só 12 pessoas em cada 100 receberam a primeira dose da vacina contra a covid- 19, de 37 nos EUA e 43 no Reino Unido, segundo o rastreador do “Financial Times”. O avanço da vacinação na Europa tem sido dificultado por problemas de oferta e, na semana passada, vários países suspenderam temporariamente o uso da vacina da Oxford/ AstraZeneca. 

Economistas do Morgan Stanley alertaram na semana passada que se as restrições continuassem por mais vários meses, isso levará a “outro verão perdido” e tirará de 2% a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da Espanha e da Itália. 

Já os economistas do Barclays avaliam que as restrições de mobilidade na Europa só serão suspensas no fim do segundo trimestre, “o que enfraquecerá a demanda interna e, consequentemente, as importações”. Eles mantiveram sua previsão de crescimento para este ano em 3,9%, mas reduziram a do ano que vem de 5,3% para 4,3%. 

Apesar de muitos economistas estarem pessimistas quanto às perspectivas de curto prazo para a zona do euro, a maioria acredita que a região se recuperará fortemente assim que a vacinação permitir a suspensão da maior parte das restrições até o fim do ano. Outros apontam que a retomada do comércio global impulsionará as fábricas alemães exportadoras. 

Erik Nielsen, do UniCredit, disse que a zona do euro será beneficiada pelos efeitos do pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão nos EUA. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/03/22/piora-da-covid-adia-retomada-na-europa.ghtml

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