Para investidor, gigantes de TI devem ir mais devagar

Roger McNamee é um dos investidores mais experientes do Vale do Silício. Com 37 anos de carreira, foi fundador de três fundos – um deles é o Silver Lake Partners, um dos maiores fundos de private equity dos EUA – e viu de perto o desenvolvimento de boa parte das empresas mais famosas do mercado de tecnologia. Entre 2006 e 2009, enquanto aconselhava Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, ajudou a empresa a contratar Sheryl Sandberg, então uma executiva do Google que ajudou a criar o modelo de negócios da rede social. Criador de três fundos e conselheiro do cofundador do Facebook, McNamee passou a criticar as empresas de internet
Para ele, as pessoas vão perceber, em algum momento, que precisam abrir mão de algumas comodidades trazidas por serviços digitais como uma forma de “ganhar saúde mental”, melhorar sua segurança on-line e até mesmo “fortalecer a democracia”. “A atenção às pessoas [individualmente] está em baixa hoje, mas vai voltar a ser uma grande coisa. E, nesse sentido, as empresas que não são digitais podem até ter alguma vantagem competitiva”, disse.
Na opinião de McNamee, a transformação das empresas de tecnologia de pequenas startups para gigantes globais trouxe grande poder econômico e político e deveria ter trazido também grande responsabilidade. Mas essa última parte não aconteceu. Ele disse que tem tentado alertar as pessoas que conhece em empresas como o Facebook e o Google, mas elas não lhe dão ouvidos.
Perguntado se isso teria acontecido de forma intencional, ele disse não acreditar nisso. “Eu conheço essas pessoas, elas não são más”, afirmou. Para ele, o que tem acontecido são consequências negativas de iniciativas tomadas com as melhores das intenções.
O que faltou, segundo ele, talvez tenha sido mais diversidade nas equipes para permitir outros olhares e questionamentos sobre o que estava sendo feito e também maturidade nas equipes. “A partir de 2003 você sai de um modelo de fundador na faixa de 40 anos de idade para equipes em seus 30 para o modelo de fundadores trabalhando no dormitório da faculdade”, disse.
McNamee considera que poucas empresas de tecnologia têm se posicionado no sentido de discutir os limites da tecnologia e possíveis mudanças que deveriam ser feitas para garantir um futuro seguro para as pessoas. Na lista, estão Apple, Salesforce e a própria IBM.
Ao longo desta semana, durante seu evento anual, a Big Blue, como é conhecida a IBM, tem ressaltado seus investimentos para reduzir o efeito do viés na elaboração de sistemas de inteligência artificial. O viés pode se apresentar em um algoritmo de forma intencional, ou não.
Nos últimos dois anos, no entanto, McNamee assumiu uma postura menos
deslumbrada com relação ao mundo da tecnologia e passou a ser uma voz de crítica à atuação das empresas de internet. “Eles não olham mais pra gente como pessoas, eles nos enxergam como métricas. O que essas empresas estão fazendo não é mais capitalismo, é um modelo distorcido”, disse ele durante palestra no evento anual da IBM, em San Francisco. McNamee lançou na semana passada o livro “Zucked – Waking Up to the Facebook Catastrophe”, em que expõe sua leitura do cenário atual e propõe soluções. “Precisamos ir mais devagar”, afirmou.
Essa postura mais “madura” é uma das formas que a IBM encontrou para se diferenciar das empresas de tecnologia mais novas que tentam avançar sobre o mercado corporativo – ao mesmo tempo em que tenta buscar uma imagem mais jovem para se parecer um pouco com elas. “O futuro é bom. A inteligência artificial tem tudo para ser a grande panaceia do século. Mas temos que fazer as coisas da forma certa”, reforçou McNamee.
No fim da apresentação, McNamee contou que tenta, a todo custo, “fugir” dos serviços do Google, usando alternativas como o buscador Duck Duck Go (que se propõe a não coletar dados de navegação de seus usuários). “Às vezes, inadvertidamente eu clico em alguma coisa que me leva para um mapa que é do Google”, brincou. Segundo ele, a tentativa de driblar o alcance da companhia é difícil por conta de tudo que ela faz e que seu recorde pessoal é de dois meses. E lançou um desafio. “Se alguém conseguir mais tempo do que isso, me avise!”.

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