Para inovar, Coca-Cola aposta em startups

O investimento é bem diferente do habitual. Quando pensamos na Coca-Cola, não associamos a empresa automaticamente a empresas iniciantes de tecnologia nem ao capital de investimento. Mas a Coca-Cola quer que os empreendedores reconsiderem essa imagem.

A gigante dos refrigerantes de Atlanta está agora se dedicando a financiar pequenas empresas cujas ideias tecnológicas podem ajudar a incrementar sua lucratividade. Até o momento, 11 startups de 10 países foram incluídas no programa, entre elas a Wonolo, de São Francisco, cujo nome é composto pelas letras iniciais de “trabalhe agora localmente”, em inglês, que oferece mão de obra imediata para – no caso da Coca-Cola – repor o estoque nas prateleiras vazias. A startup existe principalmente graças à Coca-Cola, como mostrou matéria do US Today, assinada por Marco della Cava, publicada pelo Estadão de 23/03 , pg B 15.

A Wonolo nasceu da ideia de AJ Brustein e Yong Kim, ex-funcionários da Coca-Cola que perceberam que a Wonolo não poderia crescer devidamente se fizesse parte da Coca-Cola. Assim, no segundo semestre do ano passado, a empresa pediu à dupla que seguisse seu rumo com independência.

“Havia obstáculos para que funcionássemos como uma verdadeira startup, oferecendo participação na empresa aos funcionários para que possamos contar com os engenheiros mais talentosos do Vale do Silício”, diz Brustein.

A Coca-Cola foi a primeira grande investidora no Wonolo, e a empresa de refrigerantes possui participação de um quarto na startup, que já captou US$ 2,2 milhões em investimento.

“Essa é a próxima onda de inovação para empresas fora do segmento da tecnologia, como nós”, diz David Butler, vice-presidente de inovação e empreendedorismo da Coca-Cola, que recentemente visitou o Vale do Silício para se reunir com o pessoal da Wonolo.

“Trata-se de cocriação, de oferecer capital para fazer o negócio germinar e ser o primeiro cliente deles”, diz. “Entendemos de refrigerantes. Mas outros podem nos ajudar a encontrar soluções tecnológicas para problemas em nossos negócios que não saberíamos abordar.”

Butler, ex-diretor global de design da Coca-Cola e autor do livro Design to Grown, diz que o programa Coca-Cola Founders, de três anos, funciona melhor em conjunto com inovadores de fora da empresa.

“Primeiro tentamos incentivar funcionários da Coca-Cola a criar soluções inovadoras para alguns dos nossos problemas, mas isso não deu certo, basicamente porque todos já estavam ocupados em tempo integral”, ri Butler, cuja aparência jovem esconde 25 anos de experiência no ramo. “Então tentamos um programa de empreendedores residentes em oito países, mas isso não funcionou, principalmente porque muitos estavam acostumados ao estilo de vida corporativo.”

Entre as equipes de startups com pouco pessoal e muita objetividade estão a Winnin, startup brasileira que atrai adolescentes com batalhas de postagens de vídeos que com frequência são patrocinados pela empresa de refrigerantes, e a Vending Analytics, empresa com sede em Sydney que ajuda a Coca-Cola a compreender melhor os padrões de vendas em suas 10 milhões de máquinas automáticas.

A influência de uma corporação como a Coca-Cola pode ser atraente para as startups em busca de investimento inicial e relacionamentos de negócios.

“Estamos em busca de fundadores experientes com energia”, diz Butler. “Quando os encontramos, compartilhamos com eles nossos desafios bilionários e abrimos nossos bens, que são relacionamentos, recursos e alcance. Quer entrar em contato com o diretor executivo da Walmart ou com Bono? Nós os conhecemos.”

Butler está convencido que a Coca-Cola está experimentando com um novo modelo que outras grandes multinacionais logo adotarão, principalmente porque a inovação radical parece raramente vir de dentro de grandes empresas tradicionais.

“O que a Coca-Cola está fazendo é uma maneira de se valer da magia das startups sem de fato trazer essas pessoas para dentro da empresa”, diz ele. “É também uma maneira de fazer pessoas jovens e inteligentes pensarem especificamente nos desafios da Coca-Cola.”

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