Os diferentes efeitos da crise chinesa

O pânico financeiro dos últimos dias foi o leite que entornou de uma panela que ferve, a China. No fim das contas, isso tende a afetar ainda mais países dependentes de commodities, com dificuldades de responder com medidas de política macroeconômica (juros, gasto de governo, por exemplo) e que não conseguem fazer reformas institucionais.

Essa carapuça cabe perfeitamente no Brasil. Mas há efeitos até nos Estados Unidos, como mostrou matéria da Folha de São Paulo, assinada por Vinicius Torres Freire, na edição de 25/08

A Bolsa chinesa derreteu outra vez ontem e de modo operístico porque o governo da China não adotou (mais) medidas que os donos do dinheiro grosso esperavam a fim de conter a baixa do preço das ações. A bolha da Bolsa, no entanto, esvazia desde junho.

Mas o buraco é mais embaixo.

A China cresce cada vez mais devagar, além da conta prevista, aliás. Desacelera porque lida com os transtornos de algumas reformas pró-mercado, entre outras (tentou até dar uma liberada no controle do câmbio). O investimento em construção civil cai. Recentemente, a baixa na exportação, o colapso da Bolsa e das vendas de casas e carros elevaram a preocupação com o crescimento.

Ainda se debate por que a China desvalorizou sua moeda, há quase duas semanas. Foi uma desvalorização pequena para quem quer baratear seu produto e ganhar mercado.

Ainda assim, há expectativas de alguma desvalorização adicional. Além de moeda relativamente mais forte, o comércio mundial cresce muito pouco desde a crise de 2008. Exportar mais poderia ser um auxílio.

O país enfrenta alta de custos domésticos (salários que saem do nível miserável), agravada pela alta relativa da moeda, relevante desde a crise de 2008, em especial quando comparada ao euro e ao iene.

Uma desvalorização chinesa balança o coreto mundial, já avariado. Derruba mais o preço das commodities, o que afeta moedas e exportações de países que vendem muito para a China (como o Brasil).

Uma desvalorização chinesa não sai de graça, de resto, no curto prazo, porque pode provocar mais fugas de capital da China (ninguém quer ficar com um dinheiro que perde valor) e “secar” o dinheiro no país, enxugando crédito e provocando mais pânicos financeiros, como esse da Bolsa, mas não apenas.

Esse dominó de desvalorizações de moedas continuaria a derrubar preços importantes no comércio mundial, elevando riscos ou temores de inflação baixa demais além da conta, nos Estados Unidos e Europa, o que por sua vez afetaria a rentabilidade das empresas de lá.

Em suma, como dizem economistas, a China acabaria por exportar sua deflação e (relativa) fraqueza econômica, contaminando tanto “emergentes” (de forma virulenta) quanto EUA e Europa, abortando outro princípio de recuperação econômica mundial.

Ou não? Dada a “malaise” chinesa e emergente, os EUA podem deixar para as calendas sua alta de juros tão esperada; os chineses em breve podem lançar seu pacote de estímulo. O mundo do dinheiro parece estar entre a opção de manter bolhas infladas ou enfrentar pânicos e riscos de baixa global do crescimento.

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