ONU: Compromissos não são suficientes para metas climáticas

Os novos e atualizados compromissos climáticos dos países reduzem apenas 7,5% das emissões de gases-estufa previstas para 2030, quando deveriam cortar 55% para que se garanta limitar o aquecimento da temperatura global em 1,5° C. Para limitar a temperatura a 2o C seria necessário um corte global de emissões de 30% até 2030. 

O dado pouco animador faz parte da 12a edição do relatório “Emissions Gap”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Pnuma, lançado ontem. “The heat is on”, é o título do relatório nesta edição, algo como “O aquecedor está aceso”. 

A trilha dos compromissos climáticos para 2030 colocam o mundo no caminho para um aumento da temperatura de pelo menos 2,7° C neste século. 

“Há menos de uma semana para a COP26 continuamos na rota do desastre climático mesmo com os mais recentes compromissos que foram feitos”, disse o secretário-geral da ONU António Guterres à imprensa. “A lacuna de emissões representa uma lacuna de liderança”, continuou. “A fase de ações pela metade e promessas vazias tem que chegar ao fim”. 

Para que se consiga limitar o aquecimento a 1,5° C o prazo é de oito anos para que se reduza quase pela metade a emissão, disse a diretora executiva do Pnuma Inger Andersen. “São oito anos para fazer os planos, colocar em prática as políticas, implementá-las e conseguir as reduções”, explicou. 

Foram 78 os autores do relatório, que avaliaram as promessas de emissões líquidas zero como importantes, e que poderiam fazer diferença, mas os planos são vagos e não estão contemplados nas NDCs, os compromissos climáticos dos países. 

“Há muita ambiguidade”, disse Anne Olhoff, do Pnuma e autora líder do relatório, referindo-se aos planos net-zero dos países. 

O texto diz que 49 países além da União Europeia se comprometeram com metas de emissões líquidas zero, o que cobre mais da metade das emissões globais, mais da metade do PIB e um terço da população global. 

“Compromissos líquidos a zero poderiam reduzir outros 0,5° C, se fossem robustos e se as promessas de 2030 fossem coerentes com os compromissos líquidos a zero.” 

O relatório deste ano se concentra nas emissões de metano em combustíveis fósseis, resíduos e agricultura. Segundo o texto, reduzir metano poderia fechar a lacuna de emissões e reduzir o aquecimento a curto prazo. Metano é muito mais danoso do que o dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e vida útil menor – 12 anos em comparação com centenas de anos de duração do CO2. 

Há uma iniciativa internacional liderada pela União Europeia e pelos Estados Unidos de cortar as emissões de metano, mas o Brasil não faz parte. 

O relatório diz que mercados de carbono “têm potencial de reduzir custos e, assim, incentivar compromissos mais ambiciosos, mas somente se as regras forem claramente definidas, concebidas para assegurar que as transações reflitam reduções reais de emissões”, diz o texto. 

Os mercados poderiam ser fonte de financiamento para mitigar e adaptar nações vulneráveis, sugere o relatório. 

Uma má notícia é que a oportunidade de usar a retomada econômica no pós pandemia com a ação climática foi perdida na maioria dos países, diz o relatório do Pnuma. Só 20% do total de investimentos na retomada até maio de 2021 devem reduzir as emissões. 

A pandemia levou a uma queda nas emissões globais de CO2 de 5,4% em 2020. A previsão, contudo, é que essas emissões aumentem em 2021 para um nível apenas ligeiramente inferior ao recorde registrado em 2019. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/10/27/compromissos-nao-sao-suficientes-para-metas-climaticas-afirma-onu.ghtml

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