Oceanos são a nova fronteira ambiental

Os oceanos são a próxima fronteira da luta pela preservação. A estratégia é estimular a criação de áreas protegidas ao longo dos países litorâneos e conectá-las às comunidades. Uma meta global voltada à redução da perda de biodiversidade nos mares prevê que pelo menos 10% das áreas marinhas costeiras devem estar protegidas até 2020. Estimativas indicam que o mundo chegou algo próximo a apenas 6%.
Um congresso que reúne mil pesquisadores, ambientalistas e representantes de governo de 80 países nesta semana, no Chile, discute como reverter o fracasso da meta 11 de Aichi, que faz parte de um conjunto de 20 decisões tomadas em conferência da ONU de biodiversidade em 2010, no Japão, como mostrou matéria de Daniela Chiaretti, no Valor de 11/09.
O encontro em La Serena-Coquimbo, na costa do Pacífico, é o Congresso Internacional de Áreas Protegidas Marinhas (IMPAC4) organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A organização, um híbrido entre ONGs e governos, é a principal referência mundial em conservação ambiental. É a IUCN que elabora as listas globais de espécies ameaçadas.
“A saúde dos oceanos é importante para a nossa saúde. Se quiseremos ter uma vida saudável, precisamos de oceanos saudáveis”, disse ao Valor Carl Gustaf Lundin, diretor de Marinha Global e Programa Polar da IUCN. Ele diz que boa parte dos 6% de áreas costeiras protegidas “nem estão bem protegidos, nem são bem manejados.” No congresso de 2016, a IUCN recomendou que a taxa de áreas protegidas fosse de 30% em 2030. “Temos muito pela frente”, segue.
A poluição por esgotos, plásticos e agrotóxicos, o excesso de pesca e a pesca ilegal, além da mudança do clima que causa acidificação das águas, estão ameaçando a vida nos ecossistemas marinhos.
Oceanos e mares cobrem 70% da superfície da Terra, respondem pela metade do oxigênio do mundo e abrigam 80% da vida no planeta. Pesca e aquicultura são os meios de vida de 12% da população mundial, ou 820 milhões de pessoas, e dão emprego direto a 56 milhões de pessoas, sendo que 90% são pescadores locais. Peixes estão entre os produtos mais comercializados do mundo, e 60% disso têm origem em países em desenvolvimento.
Os dados estão no discurso de Eve Crowley, representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para América Latina e Caribe. “Não podemos continuar utilizando os recursos marinhos como se fossem infinitos.”
O cenário dramático se traduz em estimativas de que 30% das populações mundiais de peixes estejam sendo excessivamente exploradas, esgotadas ou em recuperação, um desastre que triplicou de proporção em 40 anos. “A pesca ilegal representa 26 milhões de toneladas ao ano, um sexto das capturas marinhas”, continuou Eve.
A previsão é que a mudança do clima reduzirá a captura das principais espécies em 40% em 2050. “O interesse político em relação aos oceanos está em alta”, diz John Tanzer, líder global de oceanos do WWF Internacional. “Um dos motivos é deprimente: governos e indústria se deram conta que os oceanos estão muito impactados. A segunda razão é que houve muito trabalho das ONGs nesse tema.”
“Temos de fazer muito mais para proteger os oceanos. Um dos problemas é que subestimamos o seu valor”, continua Tanzer. Um estudo de 2015, encomendado pelo WWF ao Boston Consulting Group (BCG), definiu em US$ 24 trilhões ao ano o custo do impacto ambiental causado sobre peixes, manguezais, recifes de corais. “Os oceanos, por sua vez, nos oferecem US$ 2,5 trilhões em termos de serviços ambientais, tanto no estoque de peixes como no sequestro de carbono, por exemplo”, diz ele.

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