A festa foi bonita. A posse do segundo mandato do presidente Obama ocorreu bem como planejada: discreta e organizada. O principal objetivo foi alcançado: dar a maior visibilidade possível ao discurso do presidente. A ideia central da fala de 15 minutos de Barack Obama, frente a 600 mil pessoas, era exatamente a de dar um recado, em formato de apelo, bem claro, por um “esforço comum por um propósito comum”. A expressão tinha endereço certo: conter as diferenças político-partidárias que podem efetivamente conter as propostas e realizações planejadas para o segundo mandato.
A preocupação de Obama em buscar certo consenso tem toda razão de ser. Há uma espécie de “calendários de confrontos” estabelecidos entre os dois partidos, Democrata e Republicano. A oposição a Obama na Câmara dos Representantes tem real poder de paralisar os projetos da Presidência: os republicanos têm 233 votos em um total de 435 deputados americanos. A principal preocupação do presidente é o perfil político desses deputados, porque a maioria deles pertence a facções mais radicalizadas do pensamento republicano, marcadas por atitudes e votos “fundamentalistas” sobre algumas questões que são vitais para o segundo mandato. A primeira dessas questões é aumento de impostos.
O governo dos EUA enfrenta um sério déficit, ou seja, arrecada menos do que gasta. A dívida do país já ultrapassou os 110% do PIB. O Congresso fixou um limite para o crescimento desta dívida – de US$ 16,4 trilhões – e no dia em que os gastos do governo ultrapassarem estes limites automaticamente o governo Obama será obrigado a fazer cortes. Isto significa parar de pagar funcionários, fornecedores e, especialmente, cortar os benefícios dos programas sociais que são o ponto forte dos democratas em todas as eleições.
A pressão dos republicanos na Câmara é essencialmente política. O presidente Obama propõe para diminuir este déficit um aumento de impostos dos mais ricos. Os republicanos argumentam que são os ricos que compram e movimentam a economia e que se o dinheiro dos mais ricos for dado ao governo (no formato de impostos) será pior para o país do que se for para o mercado na forma de consumo, que gera empregos e renda. O ponto central do confronto político entre republicanos e democratas é este: o “modo” como se entende a função do Estado, qual é o papel do Estado. Em época de crise econômica o confronto piora. Os “fundamentalistas” contra os programas sociais ganham adeptos no eleitorado mais conservador e a separação entre Democratas e Republicanos fica cada vez mais grave.
Por essa razão no discurso de ontem, o presidente Obama falou que “ não devemos confundir absolutismo com princípios, nem trocar o espetáculo pela política, nem tratar agressões verbais como debate racional”. Em seguida mencionou a necessidade de “esforço comum”. O presidente sabe que politicamente o segundo mandato será bem complicado. E o avanço da economia norte-americana dependerá desse acerto político no Congresso.