A fatia da indústria no bolo da economia brasileira ficou menor. Uma boa prova disso são os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. A participação do setor industrial nos créditos do banco caiu de 50,1% do total em 2006, para
26,11% neste ano.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, a FGV do Rio de Janeiro, analisou os dados do desembolso do banco e confirmou a substituição: os recursos que antes tomavam a direção da indústria de transformação e agora se voltam para o setor
de comércio e serviços.
O autor do estudo, o economista Gabriel Leal de Barros, identificou nessa perda de espaço da indústria vários problemas. O primeiro, segundo ele, é a “falta de inovação e de competitividade” da indústria. O segundo ponto é a carga elevada de custos, desde ao preço
da energia elétrica, até o da mão de obra, que recebeu aumentos reais nos últimos anos, passando também pelos custos altos da logística no Brasil. Isso, sem esquecer, como insistiu o economista, a “infraestrutura deficiente”.
Tradicionalmente, desde os anos 1970, a indústria sempre liderou os empréstimos do BNDES, ocupando sempre entre 40% e 50% do total oferecido pelo banco de fomento. De 2007 em diante, o segmento industrial perdeu espaço. Em 2011, a fatia da indústria no BNDES
correspondeu a apenas 29% dos empréstimos totais. Neste ano, do total já emprestado pelo banco, apenas 26,1% foi destinado para indústrias.
É bem diferente a evolução do setor de comércio e serviços. Em 2006, a fatia desse setor era de 40,5%. No ano passado alcançou 61,4% do total. E não para de subir: até maio, do total desembolsado pelo BNDES neste ano, o setor de comércio e serviços já ficou com 65,2%.
Estes números, com certeza, traduzem uma mudança no perfil da atividade econômica do País. O setor de serviços, que é o que mais emprega gente, continua crescendo. Serviços de todos os tipos, inclusive intermediação financeira, o segmento que mais cresce.
Esse quadro pode mudar com todos os pacotes de ajuda oficial à infraestrutura. Esse tipo de obra impulsiona a indústria. Mas, é provável que o setor de serviços permaneça crescendo mais que a indústria, até pela concorrência dos produtos importados. É provável,
portanto, que o setor de serviços continue o queridinho do BNDES… E por muito tempo.