“O Oscar vai para”… a eficiência da Academia de equilibrar pressões…

A festa do Oscar fez duas opções bem definidas. Primeira, cuidar do público futuro e para tanto escolheu o apresentador que este público conhece, pouco importa o que pensam os tradicionalistas da cerimônia, mais exigentes.  Segundo, a indústria do cinema quer cuidar, e muito bem, de sua relação com Washington. Depois destas mensagens, como a mídia mais especializada já notou, a Academia cuidou da premiação. Com todas as polêmicas inerentes.

A escolha do âncora, Seth Mac Farlane, muito popular entre jovens pela série Uma família da Pesada e do muito irreverente Ted deixou bem claro a que veio no duelo de manchetes com o capitão Kirk , William Shatner, que bem a propósito veio do “túnel do tempo” da série Jornada na Estrelas, para criticar o apresentador, insinuar que era não era “suficiente” para a grandeza do espetáculo ao anunciar as “manchetes” críticas do dia seguinte, porque a cerimônia era apresentada por um jovem irreverente. A ira vinha do túnel do tempo, mais claro impossível. Como apontou o experiente Luiz Carlos Merten, no Estadão de hoje, a s piadas de Seth tinham “gosto duvidoso” para os tradicionalistas. Mas, não para o público das séries. A Academia garantiu que não censuraria as piadas politicamente incorretas típicas do apresentador. E não o fez, mesmo quando o ursinho Ted foi bem longe no politicamente incorreto no diálogo sobre o que é ser judeu em Hollywood com Mark Wallenberg, como mostrou o Estadão de hoje, pg D3.

A presença de Michelle Obama no ponto alto da noite tinha sentido óbvio. Alguns críticos de cinema entenderam a presença da primeira dama como uma espécie de resposta ao Globo de Ouro que convidou Bill Clinton. Essa resposta seria “passar um recibo” aos rivais, o que a Academia não faria nunca.  A abertura de espaço para Washington, no momento mais nobre  da cerimônia, teve o sentido de notória aproximação. Em especial, com a vitória de um filme como Argo, que marca bem a relação entre poder e cinema.

O equilíbrio na premiação não é surpresa. A mídia americana percebeu bem que a entrega do Oscar de roteiro original a Tarantino era o reconhecimento absoluto do talento e da ousadia dele. Do mesmo modo, a preocupação com o público asiático – essencial para a indústria – justifica o reconhecimento do valor artístico da alegoria de As aventuras de Pi , que ganhou fotografia, efeitos visuais e , especialmente melhor direção para o diretor Ang Lee, que melhor “conversa e entende“ o público asiático. Não foi diferente com os prêmios de Amor, destinados ao público europeu, igualmente relevante para a indústria, pela temática que tanto toca e preocupa a realidade européia.

A mídia reconheceu que o ponto alto da cerimônia foi o discurso de “melhor ator” de Daniel Day Lewis, com fina ironia, sobre o que representava o seu personagem.

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