O tempo que você passa preso num engarrafamento nunca foi tão cobiçado. Com a chegada de mais tecnologias digitais aos veículos, que passaram a contar com painéis inteligentes e conexão à internet, um mundo abriu-se para publicidade e venda de produtos. E marcas e montadoras estão correndo para aproveitá-lo ao máximo.
Motoristas e passageiros antes só podiam ser alcançados dentro dos carros basicamente por meio das propagandas nas rádios. Com a inclusão de telas nos veículos, os anunciantes podem chegar até esses consumidores em potencial por meio de anúncios em mapas de navegação, redes de internet sem fio patrocinadas ou sistemas que agilizam vendas, como mostrou matéria do Estadão, assinada por Bruno Capelas, de 15/01.
“O carro é o terceiro lugar mais importante na vida das pessoas. É onde passam mais tempo depois de casa e do escritório, seja indo para o trabalho ou levando os filhos para as aulas”, diz Katharina Becker, porta-voz da Mercedes-Benz para veículos digitais. “Toda a indústria está interessada no que acontece dentro desse lugar.”
Um dos exemplos mais recentes – e ousados – desse interesse veio da General Motors. A montadora americana anunciou em dezembro passado que irá equipar carros com um painel que dará acesso a uma plataforma de comércio eletrônico.
A ideia é que, em vez de usar seu celular, motoristas e passageiros usem o sistema do carro para pedir comida, reservar hotéis, achar vagas em estacionamentos ou encontrar postos para abastecer o veículo. O plano animou marcas como Shell, Exxon Mobil, Dunkin’Donuts e Applebee’s, que apostaram no sistema e fecharam parceria.
Segundo a empresa, até quatro milhões de carros das marcas Chevrolet, Buick, GMC e Cadillac sairão das fábricas com o novo sistema até o fim de 2018.
Concorrência. A rival Ford já havia anunciado a possibilidade de seus clientes pedirem via comando de voz que seu café comece a ser preparado na Starbucks mais próxima, antes que eles cheguem lá para retirá-lo. Para isso, a montadora conectou o sistema do carro com a assistente pessoal Alexa, desenvolvida pela Amazon, e o aplicativo de pedidos da rede de cafeterias.
As possibilidades atuais já animam as montadoras, mas não se comparam ao universo promissor vislumbrando por elas com a chegada dos carros sem motorista. Com eles, a preocupação de não distrair o motorista deixará de existir.
“Com a TV, você só pode torcer para que a pessoa assista. Ela pode ir ao banheiro ou pegar comida na cozinha e só voltar quando o intervalo acabar”, diz Greg Roberts, líder da Accenture para indústria de alta tecnologia nos EUA. “No carro autônomo, você não pode sair, porque precisa chegar ao lugar que deseja. É onde temos modelos de negócios fundamentalmente diferentes hoje.”
As montadoras e as empresas de tecnologia ainda estão trabalhando para viabilizar os veículos autônomos, que devem chegar às ruas nos próximos anos, mas já antecipam modelos que tragam painéis expondo anúncios aos usuários. Como grande parte dos veículos sem motorista deve trafegar atrelado a um serviço de transporte, como o Uber, as empresas poderão oferecer descontos na tarifa ou créditos àqueles que assistirem anúncios.
“Suas duas horas de transporte por dia poderão ser usadas para te vender algo. Não é difícil imaginar que você use o serviço de carro de graça se topar passar parte do tempo assistindo a propagandas”, afirma Roberts