O “arquivo de gostos dos consumidores de Obama” funcionou

O principal estrategista do presidente Obama, David Axelrod, avisou que a vitória indica mudança de rumo, não desta, mas “para as próximas eleições”. Antes de ser política, a vitória democrata foi feita pela estatística. Axelrod contou que a estratégia central de Obama foi construída por esquipe de estatísticos, cinco vezes maior que a de 2008, comandada por Rayid Ghani, ex-pesquisador chefe do Accenture Technology Lab.
O primeiro alvo deste time foi cuidar das formas novas de arrecadação, depois, redefinir os alvos da propaganda e criar modelo novo de abordagem de eleitores indecisos. Nesse ponto, a estratégia virou um núcleo de criação de publicidade bem diferente. E que tem tudo a ver com um outro jeito de convencer alguém a “comprar qualquer coisa”, incluindo um candidato.
O ponto central dessa estratégia, é que Ghani criou um único sistema de dados, a partir de informações de pesquisas de opinião, das doações de campanha, do trabalho dos voluntários. O mais interessante: Gahni agregou dados sobre o consumo dos eleitores e, até, das formas de participação individualizada na mídia social. Ele criou um arquivo de gostos dos “consumidores de Obama”, que se transformou em uma espécie de “código nuclear” da campanha.
Foi este arquivo que virou o jogo nos 8 estados decisivos do Colégio Eleitoral. Foi este arquivo que fez o presidente se reeleger com “os votos da costa, contra a vontade do interior”. Basta olhar o mapa, que está em qualquer jornal sobre, o azul democrata nos cantos externos do país e o vermelho absoluto em todo o interior americano. Seguindo tudo que o arquivo estatístico indicava, Obama ganhou em todas as maiores cidades dos EUA e por margens muito altas: por exemplo, 70 pontos em Nova York, 58 em Boston, 42 em Los Angeles e até por surpreendentes 24 pontos em Miami. Como mostrou o Estadão de hoje, pg A 14, mesmo em Estados onde perdeu, Obama ganhou nas cidades grandes como Atlanta, Geórgia e Dallas.
Os republicanos foram ainda bem mais votados nos seus feudos eternos. Nas pequenas cidades em todo o interior americano Romney recebeu o dobro dos votos, 14 pontos de vantagem, sobre McCain, o candidato republicano de 2008; nos subúrbios ricos bateu Obama por dois pontos.
A estratégia de Obama acertou em cheio quando considerou mais relevante a demografia e, depois, a questão de gênero. A geografia do voto no democrata com certeza revela a diversidade étnica e cultural das grandes cidades e a menor diversidade nas cidades menores. Mas não só. O voto na grande metrópole tem impactos demográficos claros. Na faixa entre 18 e 29 anos, Obama ganhou de 60% a 37%. Na faixa entre 30 anos e 44 anos, o democrata levou de 52% a 45%. Essa faixa é muito importante. Ele perdeu na faixa entre 45 anos e 64 anos de 47% a 61% e com mais de 65 anos, aí Romney levou de muito: 44% a 56%.
O voto feminino também foi relevante: 55% para 44%. As fortes declarações dos fundamentalistas do Tea Party pesaram muito nessa definição de voto pelo democrata. Mas, novamente a geografia do voto revela que nas grandes cidades a distância do voto feminino pró Obama foi muito maior.
O pragmatismo de Obama identificou correntes novas na economia e na visão de mundo dos americanos. Os republicanos preferiram o discurso tradicional. Sem esquecer o fato: as dicas do “arquivo de gostos dos consumidores de Obama” funcionaram.

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