Novo Parlamento Europeu será moldado pela guerra e migração

A agenda climática e ambiental, que esteve nos holofotes das eleições do Parlamento Europeu há cinco anos, deve naufragar no pleito deste ano. A pauta que irá se consagrar nas urnas dos 27 países europeus, frente à invasão russa na Ucrânia, deve ser a da defesa, do temor aos migrantes e uma reação à alta dos preços dos alimentos e da energia.

Há cinco anos, milhões de jovens europeus foram às ruas exigir ações para enfrentar a mudança do clima e os Verdes conseguiram sua maior vitória histórica. Mas agora os Verdes podem ter o pior desempenho entre os grupos políticos que disputarão as 720 cadeiras do Parlamento Europeu. Podem perder um terço de seus atuais 72 assentos. “Há uma reação  social contra a proteção climática”, reconheceu à Reuters a eurodeputada verde Anna Cavazzini.

A coalizão do Partido Popular Europeu, formado por partidos de centro direita de vários países, deve obter a maioria dos assentos nas eleições que acontecem entre 6 e 9 de junho. As pesquisas de intenção de voto apontam, também, para um crescimento dos grupos de extrema direita, como a AfD, na Alemanha (que ontem foi expulsa da coligação Identidade e Democracia por ter líderes com posições simpáticas aos nazistas), o francês Rassemblement National, de Marine Le Pen (que pode crescer de maneira impressionante), e o Fratelli d’Italia, da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni – que, aliás, é candidata, mas pelas regras, os eurodeputados não podem ser membros de parlamentos ou de governos nacionais. 

Atualmente o Partido Popular Europeu tem 176 cadeiras e é o maior grupo político da Casa. Os Socialistas e Democratas são a segunda força, com 139 postos. Os Verdes têm 72 posições e a coalizão Identidade e Democracia, que agrupa partidos da extrema direita, 58 parlamentares. 

Esta coalizão de forças irá mudar. Se as pesquisas se confirmarem, o Parlamento Europeu ressurge bem mais conservador na noite de 9 de junho, quando se esperam os resultados. 

Segundo a plataforma de pesquisas EU Matrix, o Partido Popular Europeu pode perder algumas poucas cadeiras, mas continuará dominante, com 173 assentos. Os socialistas e democratas podem perder 3 cadeiras. Já os Verdes dever ver sua representação tombar para 51 postos e o Identidade e Democracia, dos partidos de extrema direita, sobe para 79 posições. 

As eleições para o Parlamento Europeu acontecem a cada cinco anos e estas são as primeiras desde o Brexit – a saída do Reino Unido do bloco europeu. Vota quem tem mais de 18 anos (na Áustria, Alemanha, Bélgica e Malta podem votar eleitores a partir dos 16 anos, e na Grécia, com 17). A votação não é obrigatória (a não ser na Bélgica, Grécia e Luxemburgo.) 

Hoje são 705 eurodeputados mas a próxima legislatura deve aumentar este número para 720. França, Espanha e Países Baixos terão mais dois assentos cada e os demais serão distribuídos entre Áustria, Bélgica, Polônia, Eslovênia, Eslováquia, Finlândia, Letônia, Irlanda e Dinamarca – um assento a mais para cada. Nenhum país pode ter menos de seis eurodeputados, como Malta, ou mais de 96, como a Alemanha. 

Na Alemanha, o que se antecipa é o crescimento da AfD, empatando praticamente com os Verdes e os sociais-democratas. Na Itália, o Fratelli d’Italia pode ter domínio quase absoluto seguido pela Lega, de extrema direita, e o Forza Italia, de centro-direita; na França, o partido de Marine Le Pen deve ter domínio absoluto. A Espanha é uma exceção, deve ganhar o Partido Popular e o Vox, de extrema direita, seguir menor. Em Portugal deve ganhar o Partido Socialista, embora o Chega!, de extrema direita, aumente sua representação. 

“Eleições europeias muito raramente dependem de assuntos europeus. Os eleitores tendem a votar segundo algum assunto nacional. A eleição torna-se um referendo do governo atual do país ou algum assunto que monopoliza o debate naquele momento”, diz Aitor Hernández-Morales, jornalista senior do “Politico”, que ontem deu uma palestra sobre as eleições a convite da Delegação da União Europeia em Brasília. 

O presidente da Comissão Europeia é eleito pelo Parlamento Europeu sob proposta do Conselho Europeu (os chefes de Estado dos países- membros). Espera-se que a alemã Ursula von der Leyen, do Partido Popular Europeu, seja mantida com presidente do braço executivo da UE. “Mas ela não tem o apoio absoluto de seu partido porque defendeu muitas políticas verdes, que são muito progressistas”, diz Hernández-Morales. 

Nas últimas eleições votaram mais homens, com mais de 20 anos e origem socioeconômica média ou alta. “Houve uma queda de participação sistemática desde a primeira eleição, em 1979. Mas as últimas, em 2019, registraram participação maior”, segue Hernández- Morales. A participação é maior nos Estados fundadores da UE e menor nos do leste europeu. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/05/24/novo-parlamento-europeu-sera-moldado-pela-guerra-e-migracao.ghtml

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