Nos EUA, salários menores sobem mais

As empresas americanas estão aumentando salários de trabalhadores na faixa de menor renda. E fazem questão que todos saibam. Os salários de trabalhadores no grupo dos 25% de menor remuneração nos EUA, que foram deixados para trás durante a maior parte da recuperação econômica do país, registram agora o crescimento mais rápido desde a recessão, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Eric Morath e Julie Jargon, publicada no Valor de 25/08.

A alta parece resultar de uma maior disputa por mão de obra, aumentos no salário mínimo e iniciativas de empresas como a rede de fast-food McDonald’s e o banco J.P. Morgan Chase, que orgulhosamente divulgaram planos de engordar o contracheque dos seus funcionários que ganham menos.

Salários maiores costumam elevar os custos das empresas, mas podem ajudá- las a atrair trabalhadores mais qualificados e a reduzir a rotatividade, ganhos que, dizem analistas, não são desprezíveis.

No segundo trimestre, o salário semanal dos trabalhadores em tempo integral entre os 25% de mais baixa renda, aqueles que ganham cerca de US$ 13 por hora, subiram 3,1% em relação ao mesmo período de 2015, segundo dados do Departamento de Trabalho dos EUA. Foi a maior alta desde 2009, excedendo inclusive a obtida pelos trabalhadores de tempo integral na faixa média de remuneração, que ganham cerca de US$ 20/hora.

O aumento coincide com o declínio na mão de obra disponível para empregos considerados menos desejáveis. A taxa de desemprego dos EUA tem se mantido em 5% ou menos em 2016 e o número de trabalhadores disponíveis para cada nova vaga aberta está perto do menor nivel em 15 anos.

Os ganhos na faixa de menor renda ocorrem em meio a um aumento mais abrangente na remuneração dos americanos. Em julho, os salários no setor privado igualaram o maior crescimento anual registrado nos últimos sete anos.

Mas esses aumentos não estão sendo dados discretamente. As empresas, pelo contrário, estão fazendo deles um exemplo público, pressionando concorrentes a imitá-las e melhorando sua imagem.

Jamie Dimon, presidente do J.P. Morgan, usou um artigo publicado em julho no jornal “The New York Times” para anunciar que o banco ia aumentar o salário mínimo pago a 18 mil empregados para pelo menos US$ 12 por hora.

O diretor-presidente da Starbucks, Howard Schultz, recorreu a uma carta recente, publicada no site da rede de cafeterias, para informar os funcionários que eles receberão um aumento de pelo menos 5% neste ano. McDonald’s, Wal-Mart e Gap tomaram medidas semelhantes nos últimos anos.

Em setembro de 2015, a seguradora Nationwide Mutual Insurance anunciou reajuste de US$ 10,50 para US$ 15 por hora para seus funcionários que ganham menos. Cerca de 900 empregados de telemarketing foram beneficiados. A pressão da concorrência e da queda do desemprego foi um dos motivos do reajuste, diz Gale King, diretora administrativa da empresa.

Como resultado, a rotatividade nos centros de telemarketing caiu, e pesquisa interna mostra que os empregados estão mais satisfeitos, mesmo quem não teve aumento.
As empresas dizem que elevar salários do grupo de menor remuneração pode ser uma decisão financeira inteligente, já que gera uma força de trabalho mais estável e reduz custos com contratações e treinamento. Pode ser, ainda, uma boa manobra de relações públicas.

“Atendentes, caixas de banco, são essas pessoas que os clientes veem como a cara da marca”, diz Kirsten Davidson, analista da área de marcas no Glassdoor, um website que avalia empregos.

Os aumentos de salário também indicam uma guinada das empresas para uma distribuição maior dos lucros, diz Alan Krueger, economista da Universidade de Princeton e ex-assessor econômico do presidente Barack Obama.

“Mostra que a política salarial das empresas não é totalmente ditada pelo mercado”, diz Krueger. “É um mito que o mercado de trabalho seja puramente determinado pela oferta e a demanda.” Uma empresa guiada somente pelo mercado pagaria salários diferentes em cada cidade, e não daria aumentos no país inteiro, diz ele.

Aumentos para os empregados com salários mais baixos podem fazer clientes e até investidores se sentirem melhor em relação a uma empresa. Isso pode ser importante no caso de empresas que são alvo das atuais manifestações em defesa do aumento do salário mínimo em todo os EUA para US$ 15/hora.

“Se você perguntar às franquias qual o maior problema delas no momento, é achar gente”, disse o diretor-presidente da Dunkin Brands Group,, Nigel Travis, a investidores no mês passado. A Dunkin Brands é dona da rede de cafeterias Dunkin’Donuts.

Salários maiores podem significar preços maiores para o consumidor. Em julho, a Starbucks informou que vai elevar o preço de certas bebidas nos EUA. Travis diz que muitas franquias da Dunkin também vão aumentar preços.

Em 2015, o McDonald’s elevou o salário de seus funcionários em pelo menos US$ 1 por hora a mais que o mínimo local em cerca de 1.500 lanchonetes próprias no país. O menor salário da empresa vai superar US$ 10/hora neste ano.

Kevin Ozan, o diretor financeiro, disse em julho que, como consequência, a rotatividade da força de trabalho caiu. “Creio que o mercado de trabalho vai provavelmente continuar pressionado em muitos países, inclusive nos EUA”, diz ele.

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