Nos apps, China determina o ritmo de inovação

O aplicativo de compartilhamento de fotos e vídeos Snapchat usa códigos QR – que mais parecem tabuleiros de xadrez – para compartilhar informações com os usuários a partir de um simples toque na câmera do smartphone. O Facebook quer adicionar esse recurso aos serviços de chamada de táxis e de pagamentos dentro do aplicativo Messenger. Recentemente, a rede social e o Twitter iniciaram o serviço de streaming de vídeo ao vivo. Todos estes avanços têm algo em comum: ganharam popularidade primeiro na China.

WeChat e Alipay são dois aplicativos chineses que há muito tempo usam os códigos QR em serviços para permitir que as pessoas paguem por compras e transfiram dinheiro. Ambos permitem aos usuários chamarem um táxi ou encomendarem uma pizza sem ter de mudar para outro aplicativo. O serviço de streaming de vídeo YY.com há anos transforma jovens chineses em “estrelas”, permitindo que eles posem, conversem e cantem diante da câmera do celular, como mostrou artigo do The New York Times, assinado por Paul Mozur, publicado pelo Estadão de 09/08/

O Vale do Silício é a capital da tecnologia do mundo: ali nasceram as redes sociais e o iPhone e, depois, essas tecnologias se difundiram em todo o mundo. A conversa sempre foi de que a China segue na esteira do Vale do Silício, pois a censura do governo favoreceu a ascensão de versões locais do Google, YouTube e Twitter.

Mas o setor de tecnologia da China – em especial as desenvolvedoras de aplicativos móveis – de certo modo superou os Estados Unidos. Agora, as empresas ocidentais estão de olho nas chinesas em busca de ideias. “A China está cada vez mais na frente”, disse Ted Livingston, fundador do aplicativo de mensagens Kik, com sede nos EUA.

A China pode ter um grande papel na direção que o setor de tecnologia global vai seguir no futuro. Por lá, um grande número de pessoas já usa celulares para pagar contas, encomendar produtos, assistir vídeos e encontrar um namorado do que em qualquer outro lugar do mundo. No ano passado, o número de transações feitas em serviços de pagamento móvel superou os realizados nos EUA.

As maiores empresas de internet da China são as únicas no mundo que competem com os EUA em escala. Após o aplicativo de carona Didi Chuxing comprar a operação chinesa do Uber ficou claro que os chineses conseguem enfrentar as mais sofisticadas e maiores startups vindas dos EUA.

Especialistas indicam inúmeras áreas em que a China saltou primeiro. Antes de surgir o aplicativo de namoro online Tinder, os usuários na China já usavam um aplicativo chamado Momo. Antes de o presidente executivo da Amazon, Jeff Bezos, discutir o uso de drones para entregas, a empresa de entregas chinesa S.F. Express já testava a ideia. O WeChat já oferecia o acesso mais rápido a notícias muito antes do Facebook lançar os artigos instantâneos. O aplicativo oferecia o envio de áudio antes do WhatsApp e permitia o uso de códigos QR muito antes do Snapchat.

“Essa história de que a China copia os EUA há anos deixou de ser verdadeira e, no caso da tecnologia móvel, ocorre até o oposto: os EUA, com frequência, copiam a China”, disse o fundador da empresa de pesquisa Stratechery, Ben Thompson. “No caso do Messenger do Facebook, a melhor maneira de entender sua trajetória é examinar o WeChat.”

A maior vantagem da China é que o país criou vários setores “do zero” no final da Revolução Cultural, em 1976. Ao contrário dos EUA, onde bancos e lojas já tinham forte acesso aos clientes, os bancos estatais chineses são ineficientes e as lojas nunca conseguiram um ritmo adequado para atender a uma classe média que cresce muito rápido.

Além disto, muitos chineses nunca compraram um computador, o que significa que o smartphone é o principal aparelho para as mais de 600 milhões de pessoas que o utilizam na China.

Apesar disso, a China está atrasada em áreas importantes. Seus poderosos servidores de ponta e supercomputadores dependem, em grande parte, de tecnologia americana. Startups de realidade virtual estão bem atrás de colegas estrangeiros e o Google está à frente do Baidu no desenvolvimento do carro sem motorista.

Muitos dos produtos chineses também não têm o refinamento dos produtos oferecidos pelas suas concorrentes nascidas nos EUA.

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