A surpresa foi grande. Angus Deaton, economista britânico da Universidade de Princeton, nos EUA, é o vencedor do Nobel de Economia deste ano por seu trabalho pioneiro sobre o que determina a pobreza e como as pessoas tomam decisões de consumo.
A Real Academia Sueca de Ciências disse que Deaton foi premiado “por sua análise sobre o consumo, a pobreza e a prosperidade”. “Sua pesquisa mostra fôlego impressionante em suas abordagens: teoria básica; métodos estatísticos para teste de teorias; conhecimento aprofundado sobre a qualidade dos dados existentes; e amplo trabalho sobre a produção de novos tipos de dados”.
Deaton ingressa no grupo seleto de acadêmicos que venceram sozinhos o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (US$ 980 mil), como mostrou matéria de Ferdinando Giugliano, no Valor edição de 13/10
A obra de Deaton emprega técnicas estatísticas inovadoras para a compreensão do que motiva as pessoas em seus hábitos de consumo e como os governos podem melhorar o estímulo ao desenvolvimento econômico. Ele liderou o uso de dados microeconômicos mais precisos para entender o que ocorre numa economia como um todo, questionando hipóteses conhecidas e ajudando a resolver paradoxos aparentes na relação entre o consumo e a renda.
“Os cientistas frequentemente torcem o nariz [para o Nobel de Economia] por não considerá-lo científico”, diz John Muellbauer, economista da Universidade de Oxford que já trabalhou com Deaton. “Esta é uma exceção, pois se trata de economia do mais alto nível, baseada em evidências.”
Por exemplo, junto com Muellbauer, Deaton compilou um sistema de equações que ajuda a entender como decisões do consumidor em relação a bens diferentes interagem. Isso é essencial para governos planejarem mudanças de políticas, como o corte de imposto sobre valor agregado de alguns produtos, uma vez que essas decisões têm efeitos variados sobre diferentes grupos de consumidores, dependendo do que eles compram.
Ele construiu seu trabalho analisando a ligação entre consumo e renda abordada pelos vencedores do Nobel Franco Modigliani e Milton Friedman, para entender como mudanças na renda motivam mudanças no consumo. Ele alertou contra o uso de dados agregados para a economia como um todo para justificar decisões de política econômica importantes e expôs como é essencial entender o que acontece a diferentes grupos de consumidores, dependendo de suas idades ou níveis de renda.
Orazio Attanasio, economista do University College, de Londres, disse: “Deaton é uma das poucas pessoas que entendem a fundo o comportamento de consumo, dos indivíduos e ao longo do tempo”.
Deaton defende a importância da formação de grandes conjuntos de dados sobre padrões de consumo para que se possa entender as determinantes da pobreza. Ao contrário do que se supunha, ele mostrou que o aumento da renda da população leva a uma melhor ingestão de alimentos. Como resultado, há pouca razão empírica para orientar programas de ajuda em direção apenas aos alimentos, em vez do crescimento da economia, conforme algumas agências recomendam.