Um homem obcecado por sua própria fama, apavorado pela ideia de perdê-la e com total desprezo por aqueles que caem em desgraça aos olhos do público. Dessa maneira o jornal New York Times caracterizou o republicano Donald Trump após ter acesso à transcrição de cinco horas de entrevistas concedidas por ele ao jornalista Michael D’Antonio para uma biografia, em 2014.
Segundo a reportagem, as cinco horas de conversas revelam um grande e profundo medo de Trump: o pavor de passar por um constrangimento público. Mostram também uma intensa ambição e um comportamento indisciplinado que constrangem até mesmo os mais próximos do magnata.
D’Antonio, repórter ganhador do Pulitzer, baseou-se nessas entrevistas para escrever The Truth About Trump (A verdade sobre Trump, na tradução livre). Segundo o Times, elas capturam um “prazer visceral de Trump pela discórdia, a deliberada falta de interesse por história, a relutância em refletir sobre a vida e a crença de que a maioria das pessoas não merece respeito”.
Nas entrevistas, Trump deixa claro como é difícil para ele imaginar uma derrota. “Eu nunca falhei”, disse em uma das entrevistas, apesar das repetidas falências e reveses empresariais de sua carreira. “Porque eu sempre transformo uma derrota em sucesso.”
O jornal explica que D’Antonio agora desaprova a candidatura de Trump e deu todas as transcrições das entrevistas para a campanha de Hillary Clinton este ano. Mas ele e os democratas tiveram apenas uma breve reunião e nenhum projeto foi adiante.
Nas últimas semanas, D’Antonio repassou as transcrições para o Times. Elas incluem também conversas com a primeira mulher de Trump, Ivana, e seus três filhos mais velhos.
Em um comunicado divulgado na noite de segunda-feira, Trump comentou as gravações: “Coisas muito velhas, muito entediantes. Espero que as pessoas se divirtam.”
Nas entrevistas, realizadas no escritório e no apartamento do candidato localizados na Trump Tower, em Manhattan, ele alterna momentos de animação e tédio, e se revela “prepotente e teimoso” quando instigado a fazer um “exame de consciência”. “Não, não quero pensar sobre isso”, diz Trump quando questionado por D’Antonio sobre qual seria para ele o significado de sua vida. “Não gosto de me analisar porque posso não gostar do que vou ver.”
Apesar da relativa relutância, Trump vai se mostrando mais e mais por meio das histórias que conta, das longas e abrangentes respostas que dá ao escritor ou até mesmo quando os comentários são aparentemente meras frases casuais.
“Quem é seu herói?”, questiona o escritor. “Eu não tenho heróis”, responde Trump. “Eu não gosto de falar sobre o passado. Tudo é sobre o presente e o futuro”, completa o magnata quando o tema é história.
O Times destaca as impressões do magnata quando se trata de quem merece seu respeito. “Na maioria das vezes, você não pode respeitar as pessoas porque elas não merecem.”
E, quando questionado sobre seu estilo de vida, o republicano diz que “poderia ser muito feliz em um apartamento de apenas um quarto”. “Eu não preciso disso… três andares”, completa ele, sobre sua cobertura em Manhattan.
A reportagem afirma que, com frequência, “de uma forma ou de outra”, Trump volta ao tema da “humilhação”. De acordo com o Times, o magnata reserva especial desprezo por aqueles que se envergonham na frente de seus pares. Ele lembra a ocasião em que o presidente de um banco, que ele não revela qual é, ficou embriagado em um jantar no Hotel Waldorf Astoria, ponto obrigatório da sociedade de Manhattan. No fim da noite, destaca Trump, o homem estava incapaz de caminhar e precisou ser carregado, um comportamento que ele desaprovou completamente.
A reportagem afirma que Trump é “intoxicado” pelo entusiasmo de ver seu nome na mídia, outro aspecto que ele menciona repetidamente na entrevista. Mas seu prazer está, segundo o jornal, especialmente em saber que poucos têm o mesmo destaque que ele na mídia. “Bem, a maioria das pessoas não está nas páginas de jornal. Não se esqueça disso”, enfatiza o empresário.