Silenciosamente, a Apple está aumentando seus recursos em Inteligência Artificial (IA), com uma série de aquisições, contratações e atualizações de hardware projetadas para levar a IA para a sua próxima geração de iPhones.
Dados do setor e trabalhos acadêmicos, além de informações de especialistas do setor, sugerem que a companhia da Califórnia está dando muita atenção à resolução do problema tecnológico da execução da IA em dispositivos móveis.
A fabricante do iPhone tem estado mais ativa do que as grandes empresas de tecnologia concorrentes na compra de startups de IA e já adquiriu 21 delas desde o começo de 2017, segundo mostra uma pesquisa da PitchBook. A mais recente dessas aquisições se deu no começo de 2023 e envolveu a startup da Califórnia WaveOne, que oferece compressão de vídeo com tecnologia de IA.
“Eles estão se preparando para fazer algumas fusões e aquisições significativas”, afirma Daniel Ives da Wedbush Securities. “Eu ficaria surpreso se eles não fizerem um negócio considerável na área de IA este ano, porque há uma corrida armamentista de IA em andamento e a Apple não ficará do lado de fora apenas olhando.”
Segundo uma nota de análise recente do Morgan Stanley, quase metade das ofertas de emprego em IA da Apple inclui hoje o termo “Deep Learning”, que se refere aos algoritmos que alimentam a IA generativa – modelos que podem criar, em segundo, textos, áudios e códigos semelhantes aos criados por humanos. A companhia contratou o principal executivo da Google, John Giannandrea, em 2018.
A Apple tem mantido segredo sobre seus planos de IA, mesmo com grande concorrentes como Microsoft, Google e Amazon alardeando investimentos de muitos bilhões de dólares na tecnologia de ponta. Mas segundo fontes do setor, a companhia está trabalhando em seus próprios modelos de linguagem ampla (LLM) – a tecnologia que alimenta produtos de IA generativa como o ChatGPT da OpenAI.
“IA com responsabilidade”
O CEO, Tim Cook, disse a analistas no terceiro trimestre de 2023 que a Apple vem “fazendo pesquisas em uma grande variedade de tecnologias de IA” e investindo e inovando “com responsabilidade” no que diz respeito à nova tecnologia.
Esse desafio tecnológico exige reduções no tamanho dos modelos de linguagem ampla que alimentam a IA, assim como processadores de maior desempenho.
Outros fabricantes de dispositivos vêm se movimentando mais rapidamente do que a Apple, com a Samsung e a Google tendo já anunciado novos dispositivos que segundo elas executam funções de IA generativa por meio dos smartphones.
Evento em junho
A Conferência Mundial de Desenvolvedores da Apple, geralmente realizada em junho, é esperada como o evento em que companhia anunciará seu mais novo sistema operacional iOS 18.
“Eles tendem a esperar até que haja uma confluência de tecnologia, para poderem então oferecer uma das melhores representações dessa tecnologia”, diz Igor Jablokov, presidente-executivo do grupo empresarial de IA Pryon e fundador da Yap, uma companhia de reconhecimento de voz adquirida pela Amazon em 2011 para alimentar seus produtos Alexa e Echo.
A Apple também anunciou novos chips, que possuem mais capacidades para executar a IA generativa. A companhia disse que seu processador M3 Max para o MacBook, anunciado em outubro, “desbloqueia fluxos de trabalho que antes não eram possíveis em um laptop”, como desenvolvedores de IA que trabalham com bilhões de parâmetros de dados.
O chip S9 para as novas versões do Apple Watch, anunciado em setembro, permite ao Siri acessar e registrar dados sem a necessidade de conexão com a internet. E o chip A17 Pro do iPhone 15, também anunciado ao mesmo tempo, possui um motor neural que segundo a companhia é duas vezes mais rápido do que as gerações anteriores.
“No que diz respeito aos chips em seus dispositivos, eles definitivamente estão se voltando cada vez mais para a IA do design e arquitetura”, diz Dylan Patel, analista da firma de consultoria de semicondutores SemiAnalysis.
Pesquisadores da Apple publicaram um estudo em dezembro anunciando que fizeram um avanço na execução de LLMs em dispositivos com o uso da memória Flash, o que significa que as consultas podem ser processadas mais rapidamente, mesmo off-line.
Em outubro, a companhia anunciou uma LLM de fonte aberta em parceria com a Universidade Columbia. No momento, o “Ferret” está limitado a finalidades de pesquisa e na verdade atua como um segundo par de olhos, dizendo ao usuário o que ele está olhando, incluindo objetos específicos da imagem.
“Um dos problemas de uma LLM é que a única maneira de vivenciar o mundo é através de textos”, afirma Amanda Stent, diretora do Instituto Davis para IA do Colby College. “É isso que torna o Ferret tão emocionante: você pode começar literalmente a conectar a linguagem ao mundo real”. Nesse estágio, porém, o custo de execução de uma única consulta de “inferência” desse tipo é enorme, diz Stent.
Tal tecnologia poderá ser usada, por exemplo, como assistente virtual capaz de dizer ao usuário que marca de camisa alguém está usando em uma teleconferência, e então encomendá-la por meio de um aplicativo.
Recentemente a Microsoft ultrapassou a Apple como companhia de capital aberto mais valiosa do mundo, com os investidores entusiasmados com as movimentações do grupo de softwares na área de IA.
Mesmo assim, analistas do Bank of America melhoraram na semana passada sua classificação para a ação da Apple. Entre outras coisas, eles citaram as expectativas de que o ciclo de aprimoramento dos iPhones será estimulado pela demanda por funções de IA generativa que surgirá este ano e em 2025.
Laura Martin, analista sênior do banco de investimentos Needham, diz que a estratégia de IA da companhia será “em benefício de seu ecossistema Apple e para proteger sua base instalada”.
Ela acrescenta: “A Apple não quer estar no mesmo negócio da Google e da Amazon, que é ser a espinha dorsal de todas as empresas americanas que criam aplicativos em modelos de linguagem ampla”.