Mudança climática eleva consumo de energia, diz BP

Temperaturas extremas em todo o planeta levaram a uma forte aceleração da demanda de energia e das emissões de carbono no ano passado, informou ontem a gigante do petróleo BP, ao publicar um duro alerta de que o mundo corre o risco de perder a batalha contra a mudança climática.
Em seu relatório anual, Revisão Estatística sobre a Energia Mundial de 2019, o economista-chefe da BP, Spencer Dale, diz que, embora 2018 tenha visto outro aumento no uso de energias renováveis, como a solar e a eólica, o crescimento continuado do consumo de petróleo, gás e carvão significou que, de forma geral, o conjunto energético no mundo “infelizmente” se manteve inalterado.
O aumento de 2,9% na demanda de energia em 2018 foi o mais intenso desde 2010 e é um golpe nos esforços globais para cumprir o Acordo de Paris, adotado em 2015, na 21a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que prevê reduzir fortemente as emissões de carbono até o fim do século para limitar o aquecimento global.
China, Índia e EUA foram responsáveis por cerca de dois terços do crescimento da demanda de energia. Nos EUA, a demanda subiu 3,5%, ritmo mais forte em 30 anos, após uma década de quedas.
Em virtude do maior consumo de energia, as emissões de gases que causam o efeito estufa por meio da queima de combustíveis fósseis – que representam cerca de dois terços do total de emissões – cresceram 2% no ano passado. Este foi o maior aumento desde 2011 e é o equivalente à expansão da frota global de carros de passeio em cerca de 30%, ou pouco menos de 400 milhões de unidades.
“Está claro que estamos num caminho instável, com as emissões de carbono aumentando ao ritmo mais rápido desde 2011”, disse Dale. A BP, com sede em Londres, e as firmas rivais de petróleo e gás têm enfrentado crescentes pressões de investidores e ambientalistas para atingir as metas do Acordo de Paris sobre mudança climática.
No começo deste ano, a BP concordou em ampliar sua transparência com relação a emissões, definir metas para reduzi-las e mostrar como os investimentos futuros cumprem as metas do Acordo de Paris. Mas investidores e ativistas consideram que a empresa precisa fazer mais do que isso.
Historicamente, o consumo de energia está ligado de forma estreita ao crescimento econômico. Apesar da atividade econômica mundial ter esfriado no ano passado, o crescimento na demanda de energia foi impulsionado pelo aumento do número de dias anormalmente quentes e frios ao redor do mundo, especialmente na China, EUA e na Índia, o que levou os consumidores a usar mais energia para refrigeração e aquecimento.
“Se há uma ligação entre os crescentes níveis de carbono na atmosfera e os tipos de padrões de clima observados em 2018, isso eleva a possibilidade de um preocupante círculo vicioso”, disse Dale. Isso pode levar a um crescimento mais forte na demanda por energia e nas emissões de carbono, com as famílias e empresas buscando compensar os efeitos das temperaturas mais extremas, acrescentou.
Partes do hemisfério norte foram atingidas por frentes frias muito intensas no inverno passado, seguida por temperaturas altas recordes no verão, que resultaram em vastos incêndios e secas. No EUA, segundo a BP, o número combinado de dias usando aquecimento ou esfriamento foi o mais alto desde os anos 50.
O relatório da BP mostrou um aumento na produção de petróleo e gás, motivado em grande parte pela expansão vertiginosa da produção americana de xisto.
Enquanto a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a Rússia e outros produtores continuam a reduzir sua produção de petróleo na tentativa de elevar os preços, companhias americanas estão aumentando a produção rapidamente, em especial a da prolífica Bacia Permiana, no oeste do Texas e no Novo México. Como resultado, a oferta global de petróleo aumentou em 2,2 milhões de barris por dia, mais do que o dobro de sua média histórica. O boom nos EUA foi responsável por quase metade do aumento sem precedentes na oferta de gás natural, que cresceu 5% em 2018.
As energias renováveis cresceram 14,5% e ficaram perto da alta recorde de 2017. Mas sua participação na geração de energia continuou praticamente inalterada, representando cerca de um terço.

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