Morte de Chávez provoca tanto emoção, quanto incertezas

O desaparecimento de Hugo Chávez deixa uma complicada herança no contexto latino-americano. Foram 14 anos no poder em um país marcado por fortes desigualdades sociais, como é o caso da Venezuela. É fato que parte considerável da projeção política de Chávez se deu pelo forte aumento do preço do petróleo na última década, em especial antes da crise econômica internacional de 2008. Diferentes fontes confirmam que apenas desde 2004, o presidente venezuelano manejou mais de US$ 1 trilhão de receita com a extração de petróleo.
O presidente venezuelano conquistou presença no cenário político da América Latina com um forte discurso antiamericano. Foram vários os choques e desde 2009 os dois países retiram a os respectivos embaixadores, tanto de Caracas, como de Washington. Em 2010, por mediação internacional, inclusive brasileira, ocorreu tentativa de normalizar a relação entre os dois países. Não foi possível: o governo venezuelano negou-se a aceitar o embaixador enviado por Washington, Larry Palmer, enquanto os EUA, por reciprocidade, anulou o visto do embaixador venezuelano, Bernardo Alvarez.
Este é só um lado da história. Ao longo de todo o tempo em que Chávez esteve no poder todos os contratos de fornecimento de petróleo para os EUA foram cumpridos. Cerca de 40% do petróleo venezuelano é vendido para refinarias americanas. Em outras palavras: o discurso é de um tipo, o relacionamento econômico é de outro, bem diferente.
No cenário interno, o coronel Hugo Chávez teve projeção política após liderar um golpe de Estado em 1992. Esta tentativa custou um julgamento militar e um ano de prisão. Porém, a projeção alcançada com o golpe permitiu que Chávez concorresse nas eleições democráticas de 1998 e as ganhasse com 56,2% dos votos. O discurso de Chávez ganhou duas dimensões. A interna com forte apelo de distribuição de renda e enfrentamento da história desigualdade social do país. E o externo, com forte retórica antiamericana e constante apelo à unidade da América Latina, marcada por um conceito igualmente histórico, o “bolivarianismo” um herança dos ideais políticos de “libertador“ Simon Bolívar, quando das lutas pela independência do continente, no início do século XIX, contra o colonialismo espanhol. Chávez perdeu apenas uma das 15 eleições em que participou, apesar da oposição fazer sérias críticas quanto aos métodos populistas utilizados para a conquista dos votos.
As Forças Armadas preservam importante papel no quadro político venezuelano. A mídia internacional publicou, logo após o anúncio da morte de Hugo Chávez, que o ministro da Defesa do país, Diego Molero, deu “total garantia” para que o vice-presidente Nicolás Maduro, tome posse até a convocação das novas eleições em 30 dias, como determina a Constituição.
Na América Latina o legado de Hugo Chávez é um fato. Alguns países têm forte aproximação com as teses do bolivarianismo. Por outro lado, o desaparecimento do líder permitirá que uma nova retórica política se forme e, talvez, um outro tipo de relacionamento com os Estados Unidos se constitua.

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