Microsoft faz aposta de US$ 26,2 bilhões na Linkedin

Na maior aquisição de sua história, a Microsoft Corp. fechou a compra da LinkedIn Corp.por US$ 26,2 bilhões, em uma aposta que pode dar uma necessária sacudida nos seus produtos de software ao conectá-los à rede social para profissionais, que recentemente também tem enfrentado dificuldades.

O negócio é a jogada mais recente do diretor-presidente Satya Nadella para revitalizar uma empresa até pouco tempo considerada lenta em acompanhar as mudanças na tecnologia. Nadella está apostando que o acordo vai abrir novos horizontes não só para o pacote de programas Office, da Microsoft, como também para o LinkedIn, num momento em que ambos saturaram seus mercados. Ele também acredita que a aquisição vai fortalecer a receita e a competitividade da Microsoft, como mostrou artigo do The Wall Street Journal, assinada por Jay Greene, publicada no Valor de 14/06.

Nadella disse, numa entrevista dada ontem ao The Wall Street Journal, que “o trabalho hoje está dividido” entre as ferramentas que os trabalhadores empregam para realizar suas tarefas, como os programas do Office, e as redes de profissionais que conectam esses trabalhadores. O negócio, disse ele, tem como objetivo unir essas duas peças.

“É realmente a união da nuvem profissional com a rede profissional”, disse Nadella.

Uma conexão direta entre o Office e o LinkedIn pode, por exemplo, ajudar os participantes de uma reunião de trabalho a obter mais informações uns sobre os outros diretamente, por meio de convites gerados em suas agendas. E representantes de vendas usando o software Dynamics, da Microsoft, para gerenciar suas relações com clientes poderiam obter dicas úteis sobre eles a partir de dados do LinkedIn.

A Microsoft também vê oportunidades no Lynda.com, um canal de vídeos de treinamento que o LinkedIn comprou por US$ 1,5 bilhão, no ano passado. A Microsoft poderá oferecer vídeos do Lynda dentro de seu próprio software, como as planilhas do Excel.

Nadella também falou sobre a possibilidade de adicionar dados do LinkedIn ao assistente digital Cortana, da Microsoft.

A Microsoft vai pagar US$ 196 por ação do LinkedIn, um prêmio de 50% sobre a cotação no fechamento de sexta-feira. Ambos os conselhos de administração já aprovaram o negócio e Reid Hoffman, presidente do conselho e acionista controlador do LinkedIn, apoia a transação. As companhias esperam que o acordo seja concluído até o fim do ano.

O casamento também vai testar a capacidade da Microsoft de unir uma grande aquisição com suas próprias operações. A companhia, que tem sede em Redmond, no Estado de Washington, teve dificuldades para integrar aquisições anteriores, incluindo a divisão de celulares da Nokia Corp. e a firma de marketing digital aQuantive Inc., o que custou bilhões de dólares aos acionistas.

Para o LinkedIn, a venda é uma esperança de retomar o crescimento e proporcionar uma saída para os acionistas, que viram a cotação das ações da firma despencar de um pico de US$ 269 em fevereiro de 2015 para US$ 101,11 no mesmo mês deste ano.

O crescimento do LinkedIn se estagnou com as dificuldades na venda de publicidade. Clientes que adquiriram os produtos de recrutamento da empresa também começaram a debandar. A fusão representa uma oportunidade para impulsionar o crescimento ao tirar proveito do vasto alcance do Office, utilizado por mais de 1,2 bilhão de clientes.

O diretor-presidente do LinkedIn, Jeff Weiner, que continuará no cargo, disse que o acordo prevê “uma aceleração significativa da escala em que operamos”.

Talvez o maior desafio para a Microsoft será digerir o LinkedIn. O negócio é de longe muito maior que qualquer outra aquisição que a empresa já fez. O segundo maior negócio fechado pela Microsoft, a compra da divisão de celulares da Nokia, se mostrou desastroso. A empresa acabou se desfazendo de grande parte da divisão e foi forçada a fazer baixas contábeis que ultrapassam os US$ 9,4 bilhões que a Microsoft desembolsou para comprar o negócio. O acordo foi orquestrado em 2014 por Steve Ballmer, na época o diretor-presidente da empresa.

“Infelizmente, a história tem mostrado que obter [sinergias] é muito difícil quando duas grandes empresas se combinam, especialmente se o LinkedIn permanecer como um feudo independente dentro do império Microsoft”, diz Mitch Kapor, fundador da Lotus Development Corp. e sócio da firma de capital de risco Kapor Capital.

O acordo salienta a missão de Nadella de reformular a Microsoft, pouco mais de dois anos depois de ele ter substituído Ballmer. Nadella, que ascendeu dentro da Microsoft passando pelas divisões de aplicativos de negócios e de servidores, concentrou grande parte dos esforços da empresa em produtos e serviços para clientes corporativos.

Na liderança executiva, ele levou o software da Microsoft para plataformas que a empresa não controla, incluindo celulares Android e o sistema operacional Linux. E ele tem procurado conectar os produtos da Microsoft com fontes de dados que podem fornecer aos clientes informação oportuna e útil e desenvolver serviços que dependem de tecnologias emergentes, como a aprendizagem de máquina, que procura antecipar as informações que os usuários desejam e as ações que eles vão tomar.

Os esforços da Microsoft para embutir redes sociais em seus produtos para o trabalho não decolaram. Em 2012, a Microsoft comprou a Yammer Inc., uma plataforma de bate-papo e outros serviços para o escritório, por US $ 1,2 bilhão, mas tem visto produtos rivais, como o Slack, ganhar impulso.

Crescer tem sido um desafio tanto para o Office quanto para o LinkedIn. No trimestre encerrado em 30 de março, a unidade de Produtividade e Processos de Negócios da Microsoft, que inclui os produtos do Office, cresceu 1%, para US$ 65 milhões.

O crescimento no LinkedIn desacelerou nos últimos dois anos. Brent Thill, analista da UBS Securities LLC, corretora do banco suíço UBS, estima que a receita do LinkedIn vai subir um pouco mais de 25% em 2016, abaixo do crescimento de mais de 35% registrado em 2015 e dos 45% de 2014.

Oportunidades como a conexão entre o software Dynamics e o LinkedIn devem ajudar a Microsoft a gerar receita com a rede profissional de uma forma que o próprio LinkedIn não conseguia fazer independentemente, diz Brad Reback, analista da firma de serviços financeiros Stifel Nicolaus & Co.. Isso poderia aumentar o valor do Office para os clientes, e ajudaria a explicar por que a Microsoft fez o negócio.

Depois do anúncio da aquisição, a Moody’s Investor Services afirmou que vai rever a nota de crédito AAA da Microsoft e possivelmente rebaixá-la. A agência de classificação afirmou que as únicas empresas que têm esta nota, que indica crédito de altíssima qualidade, são a Microsoft, Johnson & Johnson e Exxon.

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