A compra do LinkedIn pela Microsoft por US$ 26 bilhões pode ajudar a dona do Windows a avançar em um segmento em que ela tenta, há anos, ganhar mais relevância no Brasil: o dos sistemas de gestão para empresas. A companhia é dona do Dynamics, um programa que funciona nos moldes de produtos da alemã SAP, da americana Salesforce e da brasileira Totvs.
Na avaliação de Donald Feinberg, vice-presidente e analista emérito da empresa de pesquisa Gartner, até hoje, a Microsoft não conseguiu avançar nesse segmento por conta da Totvs, que domina o segmento entre as empresas de pequeno e médio porte. Para ele, a Microsoft poderá integrar o Dynamics aos dados do LinkedIn para melhorar suas ofertas e ganhar espaço. “O Dynamics agora está todo adaptado para o Brasil e é oferecido no modelo de nuvem, modalidade que a Totvs está começando a investir”, como mostrou material assinada por Gustavo Brigatto, publicada no Valor de 14/06.
Sob o comando do CEO Satya Nadela, a Microsoft tem investido pesado para aprofundar seu posicionamento com uma empresa de sistemas oferecidos pela internet com cobrança de acordo com o uso, modelo conhecido como computação em nuvem.
Feinberg afirma que a Microsoft também pode capitalizar a integração do LinkedIn com outros produtos, como o Skype, o buscador Bing e o Office 365. “Quando a economia começar a voltar [a crescer], ela estará em boa posição no Brasil”, diz.
O Brasil é o terceiro maior mercado para o LinkedIn em termos de número de usuários. São 25 milhões dos 443 milhões de cadastros, atrás apenas dos EUA e da Índia. Em termos de receita, a estimativa é que o valor tenha sido de aproximadamente US$ 30 milhões em 2015. Globalmente, a companhia registrou receita de US$ 3 bilhões, alta de 35%.
No escritório em São Paulo, o LinkedIn tem, atualmente, 150 funcionários. Boa parte deles veio da própria Microsoft, como o atual presidente para América Latina, Osvaldo Barbosa de Oliveira, que deixará o posto em agosto e terá parte de suas funções assumidas por Milton Beck, também ex-Microsoft. Pelos termos do acordo entre as companhias, as operações serão mantidas independentes.
A rede é muito conhecida pelas ferramentas que oferece para quem está procurando emprego, mas também tem muitos recursos para empresas que estão buscando candidatos para vagas em aberto. Uma outra área em que a companhia vem investindo é a conexão entre pessoas de empresas diferentes interessadas em fazer negócios. Um exemplo disso seria um vendedor buscando falar com alguém responsável pela área de compras de uma outra companhia. Por meio do LinkedIn, esses profissionais podem se conectar e, assim, eventualmente, fechar negócio.
Na avaliação de Freinberg, as informações que o LinkedIn tem de seus usuários e os cruzamentos de dados que ele pode fazer não têm paralelo em outras empresas, o que abre uma nova possibilidade de atuação para a Microsoft: vender informação como serviço. A ideia é tirar informações que possam identificar as pessoas individualmente e oferecer a outras companhias leituras geradas pelo cruzamento dos dados. Google e Facebook já usam esse expediente para a venda de publicidade. O Gartner estima que nos próximos cinco anos, 80% das empresas no mundo vão ganhar dinheiro com a venda de informações de suas bases de dados.