Maior fábrica de iPhone luta para produzir

A maior fábrica de iPhones da Apple está lutando para retornar à produção plena após o feriado do Ano Novo Lunar chinês, por causa das restrições de deslocamento impostas em razão do coronavírus. Isso está contribuindo para os temores de que a epidemia possa ter um efeito duradouro sobre a companhia americana. 

A fabricante contratada Foxconn monta muitos dos iPhones da Apple em uma grande fábrica em Zhengzhou, empregando mais de 200 mil pessoas na província chinesa de Henan. 

Mas a Foxconn está enfrentando múltiplos desafios na fábrica, que retomou parcialmente a produção depois que os funcionários começaram a voltar do feriado prolongado. Ontem, a unidade responsável pela fabricação do iPhone parou de receber trabalhadores vindos de fora da cidade, apontando para problemas para abrigar aqueles que precisam ficar em quarentena. 

“Em resposta às exigências de controle de epidemias do governo, de dar prioridade à prevenção e retomar o trabalho de uma forma segura, aumentando ao mesmo tempo a qualidade da recepção de nossos funcionários”, os trabalhadores que não são de Zhengzhou tiveram que se afastar temporariamente do trabalho, diz um aviso a que o “Financial Times” teve acesso. 

As autoridades locais estão particularmente preocupadas que o grande número de funcionários que retornam de várias áreas da região possam propagar rapidamente o vírus. As empresas tiveram que “se proteger de forma rigorosa contra a entrada e propagação do vírus” no local de trabalho, disseram na segunda-feira autoridades da província de Henan, instruindo as comissões de saúde locais a “intensificar a supervisão das medidas de controle do vírus nos locais de trabalho”. 

Face às políticas municipais, como a exigência de quarentena para trabalhadores que estavam fora da cidade e que retornam, a fábrica de Zhengzhou vem lutando para reunir toda a sua força de trabalho. O governo municipal exige que trabalhadores que voltam para a cidade fiquem em quarentena por 7 a 14 dias. 

A Foxconn encaminhou cada trabalhador em retorno para seu próprio dormitório para quarentena. Os quartos, que geralmente abrigam oito pessoas, rapidamente ficaram cheios, o que levou a Foxconn a suspender o retorno de mais funcionários, segundo explicou um recrutador da fábrica sediada em Zhengzhou, que pediu para ficar no anonimato. 

“Eles não têm espaço suficiente”, afirmou o recrutador, acrescentando que os funcionários poderão agora se registrar e esperar até que haja disponibilidade de quarentena. 

“Não há ninguém roncando. Não há ninguém incomodando você. A internet finalmente está rápida”, afirmou um funcionário que se ocupa das condições confortáveis da quarentena. Os outros sete beliches de seu dormitório – apenas com os estrados, mas sem colchões – estavam vazios ontem. 

A notícia surge no momento em que a Apple anuncia um alerta de receita em parte devido ao fornecimento “temporariamente limitado” de smartphones. 

A companhia informou a investidores na segunda-feira que suas fábricas na China estão “aumentando a produção mais lentamente do que havíamos antecipado” e que “a escassez de oferta do iPhone vai afetar temporariamente as receitas no mundo”. A companhia aperfeiçoou uma cadeia de fornecimento “just-in-time” que reduz os custos, mas a torna vulnerável a interrupções não previstas. 

Analistas estão divididos sobre se a gravidade da interrupção afetará os negócios além do curto prazo. Manish Nigam, diretor de análises de tecnologia do Credit Suisse para a Ásia, prevê uma queda de 15% na produção tecnológica no primeiro trimestre, com base na suposição de que um mês inteiro de produção será perdido, mas parcialmente compensado por horas extras no fim de março. 

Mia Huang, analista da consultoria TrendForce de Taipé, diz: “A questão que provoca a maior preocupação é se a data de lançamento e os embarques iniciais do iPhone SE2, como é conhecido o iPhone 9 e que está para ser lançado, serão afetados. Por enquanto, estamos reduzindo nossa previsão de produção do iPhone no primeiro trimestre em 10%, de 45 milhões de unidades para 41 milhões”. 

Outros acreditam que as consequências vão durar muito mais tempo. “O impacto começa a parecer cada vez maior e nas próximas semanas vai crescer”, diz Bill Lu, diretor de análises da área de semicondutores do UBS na Ásia, observando que a falta de componentes será a próxima ameaça. “Os estoques estão baixos na cadeia de fornecimento dos smartphones”, acrescentou. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/02/19/maior-fabrica-de-iphone-luta-para-produzir.ghtml

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