Emmanuel Macron, o novo presidente da França, escolheu uma cara igualmente nova para ser o primeiro-ministro francês. Edouard Philippe, de 46 anos, prefeito de Le Havre, é pouco conhecido na França. Além de ser prefeito, ele representou Le Havre como deputado na Assembleia Nacional nos últimos cinco anos, pelo partido Os Republicanos, de centro-direita. Mas ele não tem experiência direta de governo, seja como ministro ou assessor.
A nomeação de um político de Executivo municipal parece emblemática da determinação de Macron de rechaçar uma elite política velha e desacreditada, em favor de uma geração mais jovem de políticos empreendedores, dispostos a transpor os limites da política partidária.
Philippe, a exemplo de Macron, parece ser progressista em questões sociais e pró-empresarial na esfera da economia, como mostrou artigo do Financial Times, assinado por AnneSyklvaine Chassany, publicado no Valor de 16/05.
Ele é um aliado próximo do ex-premiê Alain Juppé, hoje prefeito de Bordeaux, e atuou como um de seus porta-vozes durante sua malsucedida tentativa de concorrer à Presidência no ano passado. Philipe tinha trabalhado para ele anteriormente em 2002, quando Juppé era o diretor do partido de centro-direita. Ao contrário de muitos políticos promissores da centro-direita, Philippe manteve distância de Nicolas Sarkozy. Acredita-se que as relações entre os dois estejam estremecidas.
Nascido em Rouen, em uma família de professores, Philippe foi, por pouco tempo, membro do Partido Socialista, aos 20 e poucos anos, quando então se sentiu atraído pelo pensamento social-democrata do ex-premiê Michel Rocard, morto no ano passado.
Formado na universidade Sciences Po e na Escola Nacional de Administração, a faculdade de elite de aperfeiçoamento que prepara funcionários públicos ambiciosos, Philippe trabalhou anteriormente como advogado corporativo da Debevoise & Plimpton e como diretor de assuntos públicos do grupo de energia nuclear Areva.
Autor de romances políticos e entusiasta do boxe, Philippe escreveu uma coluna semanal no jornal de esquerda “Libération” durante a campanha presidencial, lançando farpas esporádicas contra Macron, seu atual superior e chefe de Estado.
Em uma das colunas, publicada alguns dias antes do segundo turno da eleição presidencial, ocorrido neste mês, ele sugeriu que Macron “teria de transgredir” se quisesse revolucionar a política francesa. “É difícil imaginar que o velho sistema deixará isso acontecer com facilidade”, escreveu Philippe.
Horas após o anúncio de sua nomeação, Philippe justificou a decisão de aceitar o cargo dizendo que a França encontra-se em uma “situação única”.
“Disse a mim mesmo que a situação que estamos é tão única que devemos tentar algo que nunca havia sido tentado antes”, afirmou, destacando ainda o compromisso de Macron as reformas trabalhistas.
Ontem, em sua posse, Philippe procurou repetir os esforços de Macron de transcender a tradicional divisão esquerda- direita ao elogiar seu antecessor, o socialista Bernard Cazeneuve.
“Você é um homem de esquerda, eu sou um homem da direita, e, mesmo assim, respeitamos um ao outro e sabemos que o interesse comum deve guiar o nosso compromisso [político]”, afirmou o novo premiê.
Prevê-se que Philippe anunciará todo o seu governo hoje. Seu mandato poderá se revelar efêmero se o partido República Em Marcha (REM, nas iniciais em francês) de Macron e seus aliados não conquistarem sólida maioria no dia 18 de junho.