Macron e Merkel foram aos EUA tentar aliviar tensões

A premiê alemã, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, visitaram Washington em meio a uma série de tensões nas relações econômicas europeias com os EUA.
As pressões – sobre comércio, sanções e outros assuntos – ficaram evidentes na reunião semestrais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Washington, na semana passada.
Os países europeus têm de lidar com os efeitos dos confrontos dos EUA com China, Rússia e Irã, incluindo a ameaça das tarifas de aço e alumínio, a perspectiva de os EUA se retirarem do acordo nuclear com o Irã (que Reino Unido, França e Alemanha ajudaram a negociar); e as sanções propostas contra a Rússia. Outras tensões com os EUA incluem o plano europeu de taxar empresas digitais, como mostrou matéria da Dow Jones, publicada no Valor de 29/04.
Merkel e Macron visitam Washington com uma série de prazos em mente, a começar por 12 de maio, data auto-imposta por Trump para essencialmente sair do acordo com o Irã, e 1o de maio, quando tarifas americanas sobre aço e alumínio entram em vigor.
“Somos aliados”, disse o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, em coletiva. “Não podemos viver com uma espada de Dâmocles sobre nossas cabeças.”
Ele indicou que, até que os EUA retirem a ameaça de tarifas sobre aço e alumínio europeus, o bloco não se juntará ao apelo de Wa-shington para pressionar Pequim. “Se quisermos discutir a China, devemos primeiro nos livrar dessa ameaça”, disse Le Maire. “Isso não pode ser só trabalho bilateral.”
Em coletiva no sábado, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, foi perguntado se tinha conseguido persuadir aliados para seus esforços contra a China. “O que procuramos fazer é discutir com nossos outros parceiros, que compartilham problemas semelhantes, muitos desses problemas não são exclusivos dos EUA.”
O ministro das Finanças português, Mario Centeno, que preside as reuniões dos ministros das Finanças da zona euro, disse, em referência ao comércio, que “a Europa não está contente com esta dimensão do debate global, deixamos isso bem claro para os EUA”.
Muitos políticos europeus simpatizam com a insatisfação dos EUA com as práticas comerciais da China. O comissário de serviços financeiros da União Europeia (UE), Valdis Dombrovskis, disse que o bloco está ansiosa para trabalhar com os EUA “de maneira multilateral” sobre as práticas comerciais chinesas. Ele disse que a UE está negociando de boa fé as tarifas americanas ao aço e ao alumínio, mas que está preparada para retaliar se isenções não forem concedidas.
“É claro que, se por qualquer motivo, elas forem impostas, estamos prontos para reagir de maneira proporcional, o que está de acordo com as regras da OMC”, disse Dombrovskis. Para ele, a justificativa do governo Trump para impor as tarifas – por razões de segurança nacional – não faz sentido. “Não vemos a UE como ameaça à segurança nacional dos EUA.”
Os parceiros comerciais dos EUA estão acelerando acordos comerciais entre si, para se protegerem. A UE anunciou no sábado a ampliação do acordo comercial com o México, cujo acordo com os EUA está sendo renegociado após ser atacado pelo presidente Donald Trump. Em dezembro, UE e Japão fecharam um acordo comercial que a Comissão Europeia (CE) considera um “poderoso sinal de que duas grandes economias estão resistindo ao protecionismo”.
“A lista de parceiros dispostos a trabalhar com a UE na defesa de um comércio aberto, justo e baseado em regras está crescendo rapidamente”, disse o presidente da CE, Jean-Claude Juncker.
O Reino Unido compartilha a preocupação com os EUA com a China, mas está preocupado com a possibilidade de sofrer danos colaterais nessa disputa. “Não acreditamos que a adoção de tarifas seja o caminho para resolver problemas no sistema global de comércio”, disse Philip Hammond, o secretário do Tesouro britânico.
Ao desafiar a Rússia e o Irã, o governo Trump está elevando as sanções como uma ferramenta política primária para enfrentar ameaças à segurança nacional sem confronto militar. E a Europa está sentindo os efeitos. A UE é o maior parceiro comercial da Rússia, enquanto a Rússia é o quarto maior parceiro comercial da UE.
Os ministros das Finanças europeus apelaram ao Tesouro dos EUA contra uma grande escalada nas sanções à Rússia e pediram a Mnuchin para isentar empresas da última rodada de sanções. Merkel pode pressionar Trump a excluir os contratos já existentes das sanções à Rússia, disse ontem o ministro das Finanças austríaco.
Empresas alemãs dizem que cumprir as sanções americanas poderia custar centenas de milhões de dólares em contratos perdidos e elevar custos de produção.
Os países europeus estão também preocupados com a possível saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã, de 2015, que pode levar à imposição de sanções americanas a vários setores da economia iraniana, incluindo petróleo.
Países europeus, como Alemanha, Itália e Espanha, têm laços comerciais com o Irã nos setores energético e industrial. O preço do petróleo também pode subir mais, atingindo a Europa, cuja economia já parece estar desacelerando.
Ontem o Irã ameaçou retomar o enriquecimento de urânio em larga escala se os EUA desfizerem o acordo com o país.
“A mensagem que estamos enfatizando é que é importante coordenar nossa resposta à Rússia”, disse Dombrovskis, da UE, devido aos impactos econômicos negativos sobre a economia europeia.
Outras autoridades europeias colocaram isso de forma mais direta em reuniões privadas com autoridades americanas na semana passada. “Queremos manter a união transatlântica, mas está cada vez mais difícil fazer isso”, disse um diplomata europeu.

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