Lula e premiê alemão mantêm defesa do acordo UE-Mercosul

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestaram nesta segunda-feira, 4, em declaração conjunta, apoio ao acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul. As negociações continuam avançadas, mas o Brasil já descarta a possibilidade de um anúncio durante a cúpula de líderes do bloco sul-americano, que ocorre na quinta-feira, no Rio.

Lula intensificou as articulações políticas nas últimas semanas, em uma tentativa de anunciar o acordo ainda na presidência brasileira do Mercosul, que se encerra também na quinta-feira. O clima de otimismo em torno dessa possibilidade esfriou, especialmente após as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, que se posicionou de forma enfática contra o acordo comercial. 

“Não posso pedir aos nossos agricultores, às indústrias francesas e em toda a Europa, que façam esforços, que apliquem novas práticas para descarbonizar e que eliminem certos produtos e dizer que estou removendo todas as tarifas para trazer produtos que não aplicam essas regras, e que isso vai ser ótimo”, disse Macron. 

Lula conseguiu manifestações favoráveis de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e do líder alemão, interessado no potencial de expansão das exportações de bens industriais de seu país. “Vamos envidar esforços adicionais para que este acordo possa ser concluído”, disse Scholz. 

Ele afirmou ainda que no Brasil, sob a liderança de Lula, “a preservação das florestas se tornou novamente uma prioridade”. Também informou que assinou com o Brasil tratados de cooperação para transição energética e produção de hidrogênio verde, com a criação de empregos no Brasil. 

“Queremos criar indústrias neutras e promover a pesquisa em matéria climática. Essa transformação tem que ser bem-sucedida, mas só será bem-sucedida se for socialmente justa”, disse. 

Lula destacou que já são quase 23 anos de negociação do acordo e pediu que von der Leyen diga claramente “se tem interesse ou não num acordo equilibrado”. 

A cúpula do Mercosul contará com a participação do atual presidente da Argentina, Alberto Fernandez, que passa o cargo no domingo para Javier Milei. O próximo presidente argentino se declarou contra o bloco regional, mas com a proximidade de sua posse, já vem mudando a abordagem. Lula brincou que espera que Scholz convença Milei a mudar de ideia. 

Fontes no Itamaraty afirmam que Diana Mondino, próxima chanceler argentina, confirmou durante interações recentes que quer assinar o acordo. “Esse é o elemento concreto até agora”, disse uma pessoa a par das negociações. 

Lula declarou que a aproximação entre Mercosul e UE é “central” na geopolítica para a criação de um mundo multipolar, mas ponderou que “se não tiver acordo, paciência”. Disse entender a posição de Macron, até porque outros presidentes franceses também mostraram relutância. “Entendi o Macron porque não é só o Macron”. 

Lula citou os ex-presidentes Jaques Chirac e Nicolas Sarkozy. “Nenhum deles se propõe a fazer acordo com o Mercosul porque eles têm problemas políticos com os produtores franceses”. “Não vou desistir do Macron. Vamos ter outras reuniões, outras necessidades, até um dia eu conseguir”, disse. 

Scholz afirmou estar convencido de que será possível obter maioria do Parlamento Europeu e no conselho para aprovação do acordo “uma vez que as negociações estejam concluídas”. Apesar das idas e vindas, as tratativas entre as partes continuam. Negociadores europeus participaram de reuniões na semana passada em Brasília e no Rio e uma nova rodada virtual ocorre esta semana. 

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