Todas as previsões foram contrariadas. Cinco anos atrás, o universo dos livros foi dominado pelo pânico coletivo diante do futuro incerto do formato impresso. Conforme os leitores migravam para os dispositivos digitais, as vendas de livros eletrônicos aumentaram vertiginosamente, crescendo 1.260% entre 2008 e 2010, alarmando os livreiros que assistiam aos consumidores procurando nas suas livrarias títulos que prefeririam adquirir online.
As vendas de livros impressos caíram, as livrarias enfrentaram dificuldades para manter as portas abertas, e autores e editores temeram a possibilidade de os livros eletrônicos, mais baratos, devorarem a própria indústria.
Então, em 2011, os temores da indústria viraram realidade quando a Borders anunciou sua falência. “Os livros eletrônicos eram como um foguete decolando”, disse Len Vlahos, ex-diretor executivo do Grupo de Estudos da Indústria do Livro, grupo de pesquisas sem fins lucrativos que acompanha a indústria das editoras. “Praticamente todos acreditavam que nossa situação seria semelhante à da indústria da música digital” como mostrou matéria do The New York Times, assinada por Alexandra Alter, publicada no estadão de de 28/09, pg B11.
Mas, o apocalipse eletrônico nunca chegou – ao menos, não quando era esperado. Analistas chegaram a prever que os e-books ultrapassariam os livros impressos até 2015, mas, em vez disso, as vendas digitais perderam muita força.
Agora há sinais indicando que alguns daqueles que adotaram os livros eletrônicos estão voltando para o formato impresso, ou se tornando leitores híbridos, alternando entre o papel e os dispositivos. As vendas de livros eletrônicos tiveram queda de 10% nos primeiros cinco meses do ano, de acordo com a Associação de Editores Americanos, que reúne dados de quase 1.200 editoras. No ano passado, os livros digitais corresponderam a cerca de 20% do mercado, fatia semelhante à observada alguns anos atrás.
O declínio na popularidade dos e-books pode indicar que, embora não sejam imunes às revoluções tecnológicas, as editoras suportarão o maremoto da tecnologia digital melhor do que outras formas de mídia, como a música e a televisão.
Os serviços de assinatura de livros eletrônicos, inspirados em empresas como Netflix e Pandora, enfrentaram dificuldades para converter os amantes de livros em leitores obsessivos, e alguns deles fecharam as portas. As vendas de dispositivos voltados para a leitura eletrônica despencaram conforme os leitores migraram para os celulares e tablets. E, de acordo com algumas pesquisas, os leitores mais jovens, considerados nativos da cultura digital, ainda preferem ler no papel.
A surpreendente resistência do formato impresso deu nova vida a muitos livreiros. As livrarias independentes, afetadas pela recessão e a concorrência de empresas como a Amazon, apresentam fortes sinais de recuperação. A Associação Americana de Livrarias contou 1.712 lojas entre seus membros em 2.227 locais em 2015, aumento em relação aos 1.410 membros em 1.660 locais observados cinco anos atrás.
“O fato de o lado digital do negócio ter perdido força nos beneficiou”, disse Oren Teicher, diretor executivo da Associação Americana de Livrarias. “O resultado foi um mercado de livrarias independentes muito mais saudável do que temos visto em anos.”
Na tentativa de lucrar com a mudança de ventos, as editoras estão investindo na infraestrutura de impressão e distribuição. A Hachette aumentou em 20 mil metros quadrados seu armazém em Indiana no final do ano passado, e a Simon & Schuster está ampliando sua central de distribuição em Nova Jersey em 18 mil m2.
A Penguin Random House investiu quase US$ 100 milhões na expansão e atualização de seus armazéns, acelerando a distribuição de seus títulos. A empresa ampliou em 34 mil 2metros quadrados o armazém de Crawfordsville, Indiana, no ano passado, dobrando o tamanho da instalação. “Todos falaram no fim dos livros físicos como se fosse apenas uma questão de tempo, mas, daqui a 50 ou 100 anos, o formato impresso ainda representará uma grande fatia da nossa indústria”, disse Markus Dohle, diretor executivo da Penguin Random House, que comanda quase 250 prensas em todo o mundo. Os livros impressos respondem por mais de 70% das vendas da empresa nos Estados Unidos.
Em 2011, a editora começou a oferecer às livrarias independentes um serviço de entrega garantida em até 2 dias, de novembro a janeiro, auge da temporada de compras de livros.
Outras grandes editoras, como HarperCollins, seguiram a tendência. As entregas mais rápidas permitiram que as livrarias fizessem encomendas menores e pedidos de reposição de estoque conforme o necessário, reduzindo em aproximadamente 10% as devoluções de livros encalhados.
A Penguin Random House também desenvolveu uma abordagem com base em dados para a gestão do inventário de livros impressos para alguns de seus maiores clientes, estratégia inspirada na forma usada por fabricantes como Procter & Gamble para a reposição automática de produtos como sabão.
A empresa rastreia agora mais de 10 milhões de registros de vendas por dia, analisando todos eles para fazer recomendações quanto ao número de exemplares de um determinado título que o livreiro deve encomendar com base no histórico de vendas. Trata-se de algo muito simples; os únicos livros que podem ser vendidos são aqueles que estão nas prateleiras”, disse Dohle.