A difusão da inteligência artificial (IA) na atividade econômica pode incrementar a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto do país em 0,9 ponto percentual por ano num horizonte até 2035. Essa é uma das principais conclusões da pesquisa inédita “Como a inteligência artificial pode acelerar o crescimento da América do Sul”, da Accenture Research.
Segundo o modelo estatístico desenvolvido pela consultoria, em pouco menos de 20 anos a IA pode elevar o valor adicionado bruto (VAB) da economia brasileira em US$ 432 bilhões, para US$ 3,452 trilhões. O VAB é obtido pela diferença entre o total produzido e o consumo intermediário absorvido.
A base de partida do estudo é a constatação de que o mundo vive, há décadas, um declínio do modelo tradicional de expansão da atividade econômica. “Os analistas chegam a considerar a estagnação o novo normal”, observa o britânico Armen Ovanessoff, diretor-executivo da consultoria para a América Latina, como mostrou artigo de Luciano Máximo, no Valor de 08/05.
Nesse cenário, os conhecidos fatores de produção capital e trabalho são incapazes de gerar grandes taxas de crescimento. É aí que entra a inteligência artificial e tecnologias a ela associadas, como robótica, “big data”, automação industrial e “machine learning”, processamento de algoritmos em altíssima velocidade. Tudo aplicável em vários setores.
“Como novo fator de produção, a inteligência artificial pode acelerar o crescimento de pelo menos três maneiras importantes: primeiro, pode criar uma nova força de trabalho virtual, a automação inteligente; depois essa tecnologia pode complementar e intensificar as competências e capacidades da força de trabalho e do capital físico existentes; por fim, a IA pode acelerar inovações na economia, como ocorreram em outros momentos da história com a internet, a eletricidade”, afirma.
Em parceria com a Frontier Economics, a Accenture modelou o impacto potencial da IA em 2035 na economia brasileira e de outros quatro países da América do Sul (Chile, Peru, Colômbia e Argentina). Foi feita, então, comparação com um cenário chamado de “linha de base”, que projeta o crescimento econômico conforme as atuais variáveis relativas ao futuro. “A constatação geral é que a IA pode agregar em média um ponto percentual ao crescimento anual dos países pesquisados, um poderoso remédio para as baixas taxas dos últimos anos”, diz Eduardo Plastino, da Accenture.
A start-up paranaense Ubivis, liderada pelo engenheiro químico Paulo Henrique Garcia de Souza, oferece a modernização de processos industriais usando inteligência artificial para indústrias. “Fábricas com maquinários de 15 anos, 20 anos têm um salto tecnológico para o nível de indústria 4.0, num sistema ciberfísico, ou seja, que integra processos físicos e computacional”, diz Souza.
Basicamente, a Ubivis cria um software ligado diretamente à maquina. O mecanismo monitora o funcionamento, processa milhares de informações e cria indicadores de desempenho que são jogados na nuvem (big data e inteligência artificial) e disponibilizados. Operadores e direção da indústria, podem acompanhar na tela do computador ou do smartphone por meio de um aplicativo. O objetivo é corrigir falhas e otimizar a operação.
Desde que começou a usar a tecnologia da Ubivis, há um ano, a fabricante de botas para frigoríficos e empresas do agronegócio Calfor Pampeana ampliou em 17% a produtividade de uma única máquina. Graças isso, a diretora de operações, Renata Simas, conta que pela primeira vez, em 20 anos, não repassou aos clientes o aumento de custos com matéria-prima e salários.
“O próximo passo é transferir a tecnologia para as outras quatro [máquinas] injetoras”, diz Renata.