THE NEW YORK TIMES – Há algumas semanas, a OpenAI, uma empresa de inteligência artificial (IA), lançou o ChatGPT, um chatbot que responde a perguntas de forma clara e direta. A ferramenta tornou-se bastante popular, com mais de 1 milhão de pessoas usando-a para criar tudo, de poesia a trabalhos escolares.
Agora a OpenAI está no meio de uma nova corrida do ouro. A companhia está em negociações para fechar um aporte de US$ 300 milhões que a levaria a ser avaliada em US$ 29 bilhões. Ela também está conversando com a Microsoft – que já havia investido US$ 1 bilhão em 2019 – para conseguir mais investimentos.
O burburinho em torno da OpenAI mostra que, mesmo na desaceleração mais desanimadora do setor de tecnologia em uma geração, a máquina de fazer negócios do Vale do Silício continua funcionando. Depois de um ano difícil que incluiu demissões em massa e cortes de gastos, os investidores em tecnologia mal podem esperar para se lançar em uma nova moda. Nenhuma área causou mais entusiasmo do que a de IA generativa, tecnologia que pode criar texto, imagens, sons e outras mídias a partir de solicitações simples feitas por humanos.
Esse tipo de IA promete reinventar tudo, desde buscadores, como o Google, até editores de fotos e imagens como o Photoshop e assistentes digitais, como a Alexa e a Siri. Ela pode proporcionar uma nova maneira de interagir com quase qualquer software. Isso fez com que as negociações envolvendo empresas de IA generativa ficassem a mil. A Jasper, uma startup fundada em 2021, levantou US$ 125 milhões em outubro, o que lhe rendeu uma avaliação de US$ 1,5 bilhão. A Stability AI, fundada em 2020, arrecadou US$ 101 milhões no mesmo mês, o que levou a uma avaliação de US$ 1 bilhão. Empresas menores, entre elas Character.AI, Replika e You.com, também atraíram investidores.
Em 2022, os investidores direcionaram pelo menos US$ 1,37 bilhão para empresas de IA generativa por meio de 78 transações, quase o mesmo valor investido nos cinco anos anteriores juntos, de acordo com dados do PitchBook.
Empolgou
Empresas desenvolvem IA generativa há anos, incluindo gigantes como Google e Meta e startups ambiciosas como a OpenAI. Mas a tecnologia não conquistou a atenção do público até o ano passado, quando a OpenAI lançou o DALL-E, que permitia às pessoas criar imagens a partir de comandos de texto.
Isso levou empresários e investidores a fazerem declarações empolgadas. E o entusiasmo atingiu novo patamar em dezembro, depois que a OpenAI lançou o ChatGPT.
Os investidores da Sequoia Capital escreveram que a IA generativa tinha “o potencial de gerar trilhões de dólares”. E Lonne Jaffe, investidor da Insight Partners, disse: “Há a sensação do surgimento da internet”.
Google, Meta e outras gigantes têm relutado em lançar tecnologias generativas para o público, porque esses sistemas costumam produzir conteúdo tóxico, inclusive desinformação e discurso de ódio. Empresas menores, no entanto, estão mais dispostas a difundir a tecnologia para o público em geral.
As técnicas para desenvolver a IA generativa são bastante conhecidas e estão disponíveis gratuitamente por meio de artigos acadêmicos e softwares de código aberto. Google e OpenAI têm uma vantagem por causa do acesso a grandes reservas financeiras e poder computacional, elementos essenciais para a tecnologia.
Entretanto, nos últimos meses, muitos dos principais pesquisadores do Google, da OpenAI e de outros laboratórios aventuraram-se por conta própria criando startups na área. Essas iniciativas receberam algumas das maiores rodadas de financiamento, com a empolgação em torno do ChatGPT e do DALL-E.
O frenesi foi intensificado pela vontade dos investidores de encontrar a próxima grande novidade da tecnologia num ambiente desanimador.
Michael Dempsey, investidor da Compound, disse que a desaceleração no setor de tecnologia – que em 2022 incluiu fraco desempenho de ações e demissões em muitas empresas – causou um período de calmaria entre os investidores. Então “todos ficaram empolgados com a IA”, disse ele.
Temores
Alguns temem que a expectativa em torno da IA generativa tenha se tornado maior que a realidade. A tecnologia suscitou questões éticas e de direitos autorais. Outros acreditam que as gigantes da tecnologia grandes, como o Google, vão trucidar em pouco tempo as recentes iniciativas de startups.
“Há muitas equipes que não têm nenhuma competência em IA, mas estão se apresentando como empresas do setor”, disse Dempsey. Essas preocupações não frearam a onda de entusiasmo, principalmente depois do surgimento da Stability AI em outubro.
A startup ajudou a financiar um projeto de software de código aberto que desenvolveu um sistema parecido com o DALL-E 2. A diferença era que, ao contrário do DALL-E 2, a versão de código aberto da Stability AI – Stable Diffusion – podia ser acessada por qualquer um. Em pouco tempo as pessoas estavam usando a ferramenta para criar imagens realistas na internet.
Novos nomes
Como consequência da empolgação, Eugenia Kuyda, fundadora e CEO da startup de chatbots Replika, disse em uma entrevista que foi contatada por “todas as empresas de capital de risco no Vale do Silício”. Ela, porém, decidiu recusar as ofertas de mais capital, pois sua empresa, fundada em 2014, é rentável.
A Character.AI, outra empresa de chatbots, e a You.com, que está adicionando a tecnologia de bate-papo ao seu motor de busca na internet, também afirmaram terem sido abarrotadas pelo interesse de investidores de risco.
Sharif Shameem, empresário que construiu em agosto um banco de dados pesquisáveis com imagens criadas pelo Stable Diffusion chamado Lexica, disse que sua ferramenta já alcançou 1 milhão de usuários – um sinal de era hora de mudar de focar na Lexica. Em poucas semanas, ele conseguiu US$ 5 milhões em financiamento.
Shameem comparou a empolgação em torno da IA generativa com o surgimento do iPhone e dos aplicativos. “Parece uma daqueles moemntos de oportunidades raras”, diz.
Jaffe, da Insight Partners, diz que sua empresa incentivou a maioria das organizações em sua carteira a considerar a incorporação de tecnologia de IA generativa em suas ofertas.
Já a Radical Ventures, empresa de capital de risco, foi criada há cinco anos especificamente para investir nesse tipo de tecnologia. Ela lançou um novo fundo de US$ 550 milhões dedicado à IA, com mais de metade de seus investimentos em empresas de IA generativa.
“Durante quatro anos e meio as pessoas pensaram que éramos loucos”, disse Jordan Jacobs, sócio da Radical. “Agora, nos últimos seis meses, elas começaram a pensar que éramos gênios.” (Erin Griffith e Cade Metz)