Inflação nos EUA acelera e vai a 3% ao ano

A inflação nos EUA se acelerou mais do que o esperado pelo mercado em janeiro e teve alta generalizada ao mesmo tempo em que o governo do presidente Donald Trump segue adiante com a imposição de tarifas de importação. Analistas estimam que a prática protecionista tende a acelerar o aumento de preços em toda a cadeia produtiva.

Em janeiro, o índice de preços ao consumidor (ou CPI, pela sigla em inglês) no país mensal subiu para seu maior nível desde agosto de 2023, liderado por uma série de gastos das famílias, em especial com alimentação e gasolina, e pelos custos com moradia. Em relação a dezembro, os preços subiram 0,5%. Em doze meses, a variação foi de 3%.

O aumento maior do que o esperado 0,4% para o mês diminui ainda mais a probabilidade de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) faça vários cortes nas taxas de juro neste ano.

Com a exclusão dos custos mais voláteis de alimentos e energia, o chamado núcleo do CPI subiu mais do que o previsto, foi impulsionado pelos preços de seguros de automóveis e passagens aéreas e por um aumento mensal recorde no custo de medicamentos que passaram a ser vendidos apenas com receita médica.

A inflação tende a subir em janeiro porque muitas empresas escolhem o início do ano para aumentar preços e comissões. Esse padrão se exacerbou nos anos que se seguiram à pandemia de covid-19 e vários analistas disseram esperar que o salto no crescimento dos preços no mês passado não se repetirá daqui para a frente.

Ainda assim, o relatório divulgado nesta quarta-feira (12) pela Agência de Estatísticas do Trabalho serve como indicador de que o recente movimento de redução do ritmo da inflação no mínimo estagnou — se é que não está a ponto de ser revertido. Combinado com um mercado de trabalho sólido, é provável que isso mantenha o Fed em compasso de espera por alguns meses.

Os dirigentes do banco também estão no aguardo de mais clareza sobre as políticas de Trump, em particular sobre tarifas, que provocam um crescimento nas expectativas de aumento da inflação ao consumidor.

Antes da divulgação do relatório sobre o CPI, os analistas se inclinavam para a possibilidade de dois cortes de taxas de juros. “Observamos vigor na alta de preçso em todas as áreas — seja de energia e alimentos ou dentro dos componentes do núcleo – e, portanto, acredito que isso aponta para um ambiente de preços que continua difícil”, disse Sarah House, economista sênior do Wells Fargo & Co. “Então, o tempo que se esperava que o Fed ficasse em compasso de espera deve se estender em relação à expectativa anterior.”

Ontem de manhã, Trump voltou a cobrar taxas de juro mais baixas e mais tarde sugeriu que os números da inflação se deviam às políticas de seu antecessor na Presidência, Joe Biden.

O aumento do IPC em janeiro foi liderado pelos preços dos alimentos, sendo que dois terços do total se devem à alta nos preços dos ovos, na esteira de um surto mortal de gripe aviária. O salto de mais de 15% foi o maior desde junho de 2015.

O preço da caixa com dez ovos estava ontem na média nacional de US$ 7,34 — um recorde que tem causado “compras nervosas” e esvaziado as prateleiras de produto nos mercados. “Isso não afeta apenas os padeiros e fabricantes de café da manhã em casa, mas também os restaurantes que dependem de ovos”, disse Elizabeth Renter, economista sênior da NerdWallet.

Os preços das moradias, a maior categoria dentro de serviços, aumentaram 0,4% em janeiro e foram responsáveis por quase 30% do avanço do IPC.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/02/12/cpi-dos-eua-sobe-05percent-em-janeiro-e-supera-projecoes.ghtml

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